domingo, 11 de dezembro de 2011

Equilíbrio na educação dos filhos

Nos últimos meses tenho lido muito Winnicott, um psicanalista inglês que os estuda os bebês e suas mães. Com o conceito de mãe suficientemente boa ele teoriza sobre uma mãe que é capaz de adaptar-se às necessidades do seu bebê. Conforme ele vai adquirindo alguma autonomia a mãe vai se adaptando e dando espaço para que o bebê desenvolva suas potencialidades.
Numa linguagem mais comum eu posso dizer que a mãe suficientemente boa é aquela que confia nas competências de seu filho. Ela diz: hoje eu não posso sair porque ele sentirá minha falta; Dias depois ela dirá: já posso ir para o trabalho porque ele vai suportar a minha ausência. Agora, eu vou ampliar esta relação para além do bebê. Suponhamos um adolescente, com uma razoável autonomia. Se Winnicott estiver certo, na proporção em que o filho conquista mais autonomia nós, mães e pais, deveríamos nos adaptar, cada vez mais a esta autonomia. Ou seja, teríamos que sair de cena. O palco agora é deles e nós ficamos nos bastidores ou no nosso palco particular.
Estou segura de que alcançar tal equilíbrio não é uma tarefa fácil. Mas se formos pais que educaram bem, poderemos confiar na formação que demos a eles. Bons pais são aqueles que deixam de ser necessários aos filhos em algum momento da vida. Se continuarmos em cima, no pé, brigando pra sermos indispensáveis vamos ser inconvenientes e os afastaremos de nós. Na medida em que aumenta a independência diminui a dependência, mas sempre seremos úteis, seremos referência, aconchego, colo disponível para quando eles precisarem.
Um dia eu quero ser apenas referência para meus filhos e netos, sem obrigações, sem dar brocas, castigos, sermões,deveres de casa e preocupações com seus futuros. Eu tenho uma profunda esperança de que isso irá acontecer, sabe por quê? Porque eu os educo, eu os capacito, preparo a bagagem deles para a viagem da vida. No início dá muito trabalho, mas com o tempo eles estarão cada vez mais forte, mais seguros, e precisarão menos de mim. Chegará o dia em que eles é quem serão necessários para mim. Quando esse dia chegar eu não quero implorar por um favor, eu espero que eles sejam maduros o suficiente para se adaptarem a inversão de necessidades. Não por obrigação moral, mas por amor, respeito e gratidão! É o ciclo da vida, é o novo pedido passagem!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Dicas de viagem

Maslow, psicólogo humanista teorizou sobre a psicologia da autoatualização. Autoatualizar-se é desenvolver suas potencialidades, é “o uso e exploração plenos de talentos, capacidades, potencialidades etc.” (Maslow, 1970, p. 150). Para este autor as pessoas devem fazer aquilo que lhes dá prazer. Pensando nisso e observando as pessoas ele sistematizou algumas caracteristicas das pessoas autoatualizadas. Resumo a seguir o que você pode fazer para se autoatualizar em sua viagem pela existência:
  1. Esteja atento ao que acontece dentro de você e ao seu redor. Ou seja, viva o presente de forma consciente! Observe como você acordou hoje e como se sente. Durante o dia sorria para alguém, encontre pessoas.
  2. Quando fizer escolhas, opte por coisas que favoreçam o seu crescimento. Abra-se para experiências novas e desafiadoras!
  3. Seja verdadeiro. Decida sozinho o que você fará amanhã ou agora, independente do que os outros irão pensar. Seja você mesmo!
  4. Seja honesto com você mesmo e assuma as consequências de suas escolhas. Não adianta chorar pelo leite derramado! Se permita errar o caminho, volte e tente de novo, porque não há GPS na estrada da vida!
  5. Viva intensamente os momentos especiais na sua jornada. Não há muitos momentos especiais em sua vida? Invente-os! Contemple o por do sol, alimente um faminto, ensine alguém a ler.
  6. Não se prenda aos resultados, porque autoatualizar-se é um processo. Afinal, o que vale não é o destino, mas a viagem. Escolha o caminho mais criativo, mais agradável, não o mais fácil!
  7. Reconheça suas próprias defesas. Para superar suas limitações você precisa primeiro reconhecê-las. Superar a si mesmo é a maior de todas as vitórias.
8. Eu acrescentaria mais um: sentir-se útil. Penso que é muito importante sentir que sou útil ao próximo. Servir ao próximo é um privilégio que somente pessoas autoatualizadas podem desfrutar. Faça algo por alguém!
Fácil alcançar tudo isso? Não. Escrevo este texto primeiro pra mim, porque não estou conseguindo dar o meu melhor, nem pra mim nem pras pessoas que encontro no caminho. Mas não é impossível. Vou recomeçar! 
Então? Vamos preparar as malas? Não vamos levar muita coisa, comecemos tirando o que não é essencial. Deixemos espaço para as coisas novas que encontraremos no caminho. Comece aos poucos e quando você menos perceber... a viagem estará sendo uma delícia! BOA VIAGEM!

sábado, 19 de novembro de 2011

Ei mãe, não sou mais menino...cresci!

Nossa roda de terapia comunitária foi singular. Ninguém apresentou um problema específico, fiquei no vácuo, como diriam os adolescentes. Porém, uma participante, que no passado apresentara um problema, passou a nos dar um “feedback” de como superou seu problema. Ela está se adaptando à condição de avó e sogra. Ela disse que confiava que o filho, de 17 anos, iria dar conta da nova responsabilidade de ser pai. Outra participante disse: é muito difícil chegar a este nível de maturidade, pra mim é difícil aceitar que meus filhos não precisam mais de mim. Pronto! Surgiu uma dificuldade na roda de terapia.
Perguntei para o grupo quem um dia já se surpreendeu com o filho e disse: Meu filho cresceu e eu não vi!! Como foi esta experiência pra você? Então, de acordo com o desenrolar das falas eu ia refazendo a pergunta de modo diferente. Como foi pra você ter outra mulher dentro de casa? Como é perceber que o seu filho não é mais uma criança, que está independente? Como você superou, se adequou, a esta mudança?
Ei mãe, não sou mais menino! Ouça a música com Eramo e Frejat
Várias pessoas compartilharam suas dificuldades. Uma jovem mãe compartilhou a surpresa que teve ao chegar a casa e ver que a filha havia preparado o jantar. Uma mãe experiente surpreendeu-se com sua filha caçula menstruando tão cedo. Outra que se assustou por ser chamada de sogra. Uma disse que se sentiu traída ao saber que a filha havia viajado sem avisá-la, disse ainda que sente necessidade de preencher sua vida com outras coisas, pois os filhos não ocupam mais o seu tempo.
Parece que nós, mães e pais, não estamos preparados para vermos nossos filhos baterem asas e voar. Vivemos em função dos filhos de tal forma que não percebemos a hora em que devemos confiar na competência de suas asas, que nós alimentamos no passado. Como diz o sábio ditado popular: Criamos os filhos para o mundo. Penso que eles nos apontarão a direção que deveremos seguir. Os meus filhos já estão sinalizando que logo estarão prontos. E os seus já deixaram o ninho? Não deixe seu ninho vazio, descubra novas formas de preencher sua vida!

domingo, 13 de novembro de 2011

Você já experimentou o REMOVE-DOR?

O livro “infantil” O Colecionador de Segredos, de André Neves e Márcia Silva está repleto de metáforas interessantes. Os autores nos contam, brilhantemente, como ao longo de nossas vidas colecionamos coisas, uns lembranças, outros medos e há os que colecionam preocupações. 
Mas existe uma forma de nos desfazermos destas coleções. Uma das personagens do livro descobre o REMOVE-DOR. Eu gostei muito desta expressão. O removedor que usamos para retirar uma tinta que cai no chão ou uma graxa, limpa o que antes estava manchado. Em nossa vida é assim, colecionamos dores, e quanto mais as acumulamos mais nos habituamos a elas. 
Se você coleciona uma dor saiba que existe um produto que pode removê-la. Mas os seus problemas não acabaram (parafraseando as organizações Tabajara), poderão ser, apenas, minimizados com o REMOVE-DOR. Penso que há bilhões de REMOVE-DORES no mundo, porque cada pessoa precisa de um tipo de REMOVE-DOR específico. Um alerta: este produto não é encontrado em mercados, nem em farmácias e não tem receita ou bula. O REMOVE-DOR do qual estou falando não é um REMÉDIO, que mascara a sua DOR. Então, eu não posso prescrevê-lo, porque só você pode descobrir o REMOVE-DOR apropriado para a sua dor. 

É preciso estar atento à dor que você se habituou a colecionar, para começar a identificar o REMOVE-DOR que fará a reação química adequada para removê-la. Algumas pessoas acostumaram-se a colecionar murmurações, para estas pessoas o removedor poderia ser um exercício chamado gratidão. Outros colecionam tristezas que poderiam ser removidas com um novo ponto de vista em função das coisas boas da vida. Há ainda os que colecionam ilusões, por isso estão sempre se desiludindo...é uma dor após a outra, no amor ou nos negócios. Seja qual for a sua dor, eu espero, do fundo do meu coração, que você possa removê-la e que estas palavras possam lhe trazer esperança. Como disse o profeta Jeremias: Quero trazer à lembrança o que pode me dar esperança!

sábado, 22 de outubro de 2011

Terapia Comunitária e Psicodrama

Há muito tempo que eu desejo trabalhar com esta dobradinha TCI e Psicodrama. O desejo pode mover montanhas. Eu e Arthur, que estamos conduzindo o grupo de TC no TST, combinamos que assim que houvesse oportunidade introduziríamos com o Psicodrama. Destaco que há muita proximidade entre as duas abordagens. Como diz uma amiga, somos primos. Um dos objetivos do psicodrama é investigar as dificuldades ao desempenho livre, espontâneo criativo das nossas condutas ou papeis.
Após nos aquecermos, nos passos da TC, seguimos para o momento em que a participante, cujo tema foi eleito, apresenta com detalhes seu sofrimento. Éramos 25 pessoas. A protagonista desta semana é uma participante regular do grupo, ela sempre apresenta os muitos conflitos familiares em que está inserida. Ela já participa a uns 6 meses, desde que soube da gravidez da filha e a colocou pra fora de casa. Na semana anterior ela falou da dificuldade em relacionar-se com o marido. Esta semana voltou com a dificuldade que tem em perdoar a filha, em abraçá-la. Então eu perguntei: o que você gostaria de dizer pra sua filha? Arthur acompanhou meu movimento e convidou nossa protagonista a escolher alguém para ser a sua filha.
Ela disse à filha, de 19 anos, que queria para ela um futuro melhor, uma vida de estudo e trabalho, não de filhos. A filha disse que se sentia muito só, com medo, desamparada pelo fato de a mãe não apoiá-la. A protagonista pode conscientizar-se sobre o que sente e que a filha sofre com a distância da mãe. Após conversarem, sempre orientadas pelo diretor da cena, a protagonista disse que tem vontade de abraçar a filha, mas lhe falta coragem. O diretor apresentou a ela um participante da plateia, que tem uns 120 quilos, e perguntou: este tanto de coragem te ajuda? A coragem a conduziu até a filha, que abriu os braços para a mãe e as duas se abraçaram, com muita emoção.
Por fim, partilhamos o que cada um sentiu, duas pessoas da plateia contaram como superaram a dificuldade de perdoar e aceitar. Na TCI falar é o caminho para a cura. Mas há casos em que a pessoa não se conscientiza do que está falando e sofrendo. Assim, acredito que neste caso específico foi essencial a representação. O Psicodrama é uma metodologia muito fértil no momento da contextualização. Em seguida realizamos a partilha das experiências. Uma das funções da partilha é ajudar o protagonista a perceber que ele não está só, que outras pessoas também têm ou tiveram a mesma dificuldade que ele. Outra função essencial é a de o protagonista perceber-se útil ao ver como outros participantes aprenderam com a sua representação. Alerto que o terapeuta comunitário deve ter alguma capacitação em psicodrama para poder aplicá-lo. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Uma roda que não deu muito certo...

Estar nas rodas de TC é, para mim, um grande prazer. Mas nem sempre tudo são flores. Em setembro, eu e Arthur, realizamos uma roda com um tema pré-estabelecido. Eu gosto e ir pra terapia com uma carta na manga: “se não houver nenhuma questão do grupo eu vou propor tal tema”. No grupo regular que eu trabalho isso raramente acontece. Mas neste dia aconteceu.
Tenho percebido que algumas pessoas do grupo querem sempre estar felizes. Eu apresentei a proposta (que estava guardada a meses) de falarmos sobre a tristeza e a depressão. Alguém protestou baixinho: “já estou  triste, vamos fazer uma coisa alegre”. Meus ouvidos de psicóloga ouviram: “não quero enfrentar minha tristeza”. Com todo meu respeito pelas defesas, que são necessárias, eu confrontei a jovem explicando a minha ideia.
Penso que hoje é proibido ficar triste e qualquer tristeza mais forte já chamam de depressão, aí aparece um “amigo” exigindo que você supere logo o problema. Discutimos este tema, várias pessoas relembraram momentos de profunda tristeza e compartilharam as estratégias usadas para superar. Ao final eu compartilhei um texto que estava comigo sobre ser dominado pela tristeza.
Durante a avaliação da roda a consideramos boa ou ótima em alguns pontos. Mas o meu sentimento é de que não foi uma roda legal. Hoje acho que antes de oferecer o tema eu deveria ter perguntado qual tema o grupo gostaria de propor, já que não havia nenhuma questão individual. Se houvesse vários temas, elegeríamos um, se houvesse apenas um, seria aquele e se não houvesse nenhum tema vindo do grupo eu proporia o meu. Mas a minha ansiedade foi na frente, porque eu acho que eles têm que enfrentar a tristeza, como eu penso que faço, eu “impus” meu tema. Foi com amor, boa vontade, carinho, mas não foi uma condução apropriada.
O que eu trouxe comigo daquela roda de TC é que nem sempre eu estou preparada o suficiente, nem todo dia eu conduzo bem a terapia, nem todo dia eu me sinto segura, nem todo dia dá certo...nenhum dia é igual ao outro. 

sábado, 8 de outubro de 2011

Omelete de amoras: melancolia, saudades do impossível!


Era uma vez um rei que tinha todos os poderes e tesouros da terra, mas, apesar disso, não se sentia feliz e, a cada ano, ficava mais melancólico.Um dia, ele chamou o seu cozinheiro e disse-lhe: Você tem cozinhado muito bem para mim e tem trazido para a minha mesa as melhores iguarias, de modo que lhe sou agradecido. Agora, porém, quero que você me dê uma última prova de sua arte. Você deve me preparar uma omelete de amoras igual àquela que comi há 50 anos, na infância. Naquele tempo, meu pai tinha perdido a guerra contra o reino vizinho e nós precisávamos fugir. Viajamos dia e noite através da floresta, onde, afinal, acabamos nos perdendo. Estávamos famintos e cansadíssimos, quando chegamos a uma cabana onde morava uma velhinha, que nos acolheu generosamente. Ela preparou-nos uma omelete de amoras, e, quando a comi, fiquei maravilhado. A omelete era deliciosa e me trouxe esperança ao coração. Na época, eu não dei muita importância à coisa. Mais tarde, já no trono, vasculhei todo o reino, porém não foi possível localizá-la. Agora, quero que você atenda a esse meu desejo: faça uma omelete de amoras igual à dela. Se você conseguir, eu lhe darei ouro. Se não conseguir, entretanto, mandarei matá-lo.
Então, o cozinheiro disse: Senhor, pode chamar imediatamente o carrasco. É claro que conheço todo o segredo da preparação de uma omelete de amoras, sei empregar todos os temperos, conheço as palavras mágicas que devem ser pronunciadas enquanto os ovos são batidos e a melhor técnica para batê-los, mas isso não me impedirá de ser executado, porque a minha omelete jamais será igual à da velhinha. Ela não terá o sabor picante do perigo, a emoção da fuga, não será comida com o sentido alerta do perseguido, não terá a doçura inesperada da hospitalidade calorosa e do repouso. Não terá o sabor do presente estranho e do futuro incerto.
Esta história nos faz pensar que a melancolia é, como escreve Freud, uma sensação de que se perdeu algo, que não se sabe bem o que. Em consequência disso passamos dias de nossas vidas tentando trazer de volta o sabor de uma omelete única. O rei da história estava melancólico, sem vigor, com saudades de um tempo especial de aventura, amor, emoção, magia (acho que a velha era uma feiticeira). Porém, ele ficou preso ao passado, sem viver o presente, pensando que se consumisse a omelete, matando se preciso fosse, ele teria sua alegria de volta. É impossível revivermos momentos especiais do passado.
Hoje confundimos objeto de desejo com objeto de consumo. As crianças desejam um brinquedo novo, os jovens uma roupa nova, os adultos uma viagem nova e os mais vividos um corpo novo ou o antigo. O desejo é inerente a nossa existência humana, não podemos possuí-lo, consumi-lo. O desejo é vital, o consumo não. É comum as pessoas dizerem que vão às compras, porque estão tristes. Triste engano, as compras nunca poderão preencher o vazio, ou trazer de volta algo que passou.
Lembrando Titãs: Você tem fome de que? Sempre quer inteiro e não pela metade? Necessidade, desejo... Não confunda necessidade com vontade! O que fazer então? Promover novos momentos especiais: fazer novos pratos, com novos sabores, com novas magias. Faça algo novo, ria, chore, ame, brigue, faça as pazes, viva. Agradeça pelo que você tem!
Parábola extraída do livro AS MAIS BELAS PARÁBOLAS DE TODOS OS TEMPOS - Volume 2, Alexandre Rangel, Editora Leitura

sábado, 1 de outubro de 2011

Como será o amanhã?

Esta é uma pergunta que todo ser humano se faz. Especialmente na juventude, momento de decisões, escolhas e aparentemente de definição para o resto da vida. Digo aparentemente porque seja qual for o caminho escolhido, desde que não leve a morte, sempre será possível retomar, reencontrar alguém do passado, escolher outra profissão...
Para quem não conhece a música: Monobloco

Como será amanhã? 
Responda quem puder
O que irá me acontecer? 
O meu destino será
Como Deus quiser 
Como será?... 
A cigana leu o meu destino
Eu sonhei!
Bola de cristal
Jogo de búzios, cartomante
Eu sempre perguntei
O que será?

Autor: João Sérgio

Ontem, eu e Arthur, fizemos duas rodas juntos. A primeira foi na UnB com 37 jovens, todos participavam pela primeira vez de uma roda de TC. O tema escolhido foi este: angústia em relação ao futuro. Um jovem profissional angustiado em relação ao seu amanhã, profissão e relacionamento..
Uma participante contou que ter filhos, ainda muito jovem, foi uma escolha difícil: “eu estava seguindo reto, rumo aos meus objetivos...agora vou por um caminho mais longo, mas vou chegar ao mesmo lugar”. Outra jovem relatou que deixou sua família e veio estudar em Brasília, em busca de seus sonhos: “é difícil ficar longe das pessoas que eu amo...mas eu acho que fiz a escolha certa”. Um rapaz nos contou que descobriu que precisava primeiro pensar nele, pra depois pensar nos outros.
Parece que de alguma forma nós fazemos o futuro, mas por outro lado a vida também nos leva para o futuro, por caminhos que não planejamos.  Mas o que é a vida? O que é o futuro? Se não um constante surpreender-se (com alegrias e tristezas) neste nosso percurso de existir. Neste caminho encontramos pessoas, algumas fazem a diferença, outras nem tanto. Todos passamos pela vida, uns dos outros. Na vida fazemos escolhas diariamente, algumas relevantes, outras nem tanto.
Não adianta bola de cristal, cartomante, jogos de búzios. Em períodos de crises, com grandes escolhas, penso que é preciso acalmar-me internamente, saber distinguir o que é meu e o que é do outro, para viver um pouco mais consciente. Mas pedras no caminho? Sempre. Mas o que você faz com elas? Concluo com Cora Coralina: Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.

domingo, 25 de setembro de 2011

O que a boca cala o CORAÇÃO sofre

Algumas vezes uma roda de TC nos surpreende com o silêncio ou com um tema aparentemente banal. Lembro-me do dia em que o tema escolhido, na roda, foi a dificuldade em matar as baratinhas da casa da pessoa. Esta roda, foi na minha opinião uma das mais ricas. Se você quiser ver como esta roda se desenvolveu click aqui.
Hoje a mesma participante trouxe outra preocupação: “PRÉ-OCUPADA” com a possibilidade de ser hipertensa. Lancei a seguinte pergunta ao grupo: Quem já sofreu por antecipação? Não houve nenhuma identificação com esta pergunta. Então eu elaborei outro mote, sabendo que no grupo havia uns 6 hipertensos: Como foi saber que você era hipertenso e como você lida com isso?

Várias pessoas responderam. Uma disse que soube que estava hipertensa quando grávida, narrou a tristeza que sentiu ao saber que seu filho morrera em seu ventre, aos cinco meses de gestação. Contou ainda que as próximas gestações apresentaram a mesma complicação, mas que as filhas sobreviveram. Outra participante lembrou que quando grávida passou pela mesma situação 3 vezes, tendo que fazer, contra sua vontade, três cesarianas. Outra contou que por não saber que era hipertensa quase morreu. Uma jovem compartilhou sua preocupação com o fato de estar com várias taxas alteradas e por ter perdido muito peso em poucos meses.
Ao final da roda uma participante disse que cuidar da saúde é algo muito importante e que ela está com diabetes, hipertensão e bem acima do peso. O problema é que ela não está tomando nenhum medicamento, não faz acompanhamento médico, é sedentária e continua engordando. Ela reconheceu a necessidade de cuidar de sua saúde e comprometeu-se a cuidar de si.
Acredito que esta roda foi um alerta para que todos nós possamos nos lembrar da importância do cuidado com a saúde. Ao final da roda lembrei a todos que o que a boca cala o corpo fala. Acredito com todas as minhas forças que se não verbalizarmos nossas angústias, sofrimentos adoecemos. É claro que há uma tendência a hipertensão com o passar dos anos, sei que envelhecemos e às vezes adoecemos porque a máquina fica gasta.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Era uma casa ... ninguém podia entrar nela não...porque na casa não tinha chão...


Quando alguém começa a abrir o seu coração dizendo que se sente sem rumo e sem chão é porque a pessoa de fato está perdida e sem estrutura. Nádia (nome fictício) contou que o ex-marido esteve em sua casa e agiu de forma violenta: “ele quebrou tudo!”  Ela disse ter sentido vontade de morrer: “eu não queria mais viver, pensei em me jogar do viaduto”. Ela não o denunciou, mas está procurando outro lugar para morar, longe dele. Somando-se a este conflito a sua mãe está na UTI desde o mês passado: “me apavora pensar em ficar sem minha mãe, ela é tudo pra mim”, nos conta Nádia.
Ficar sem casa e sem mãe...não é fácil! É estar sem um lugar para chamar de seu e sem o colo materno para confortar. Realmente falta o chão. Todos nós passamos por momentos na vida em que nos sentimos desamparados, fragilizados, em perigo. Ter um espaço para falar deste desamparo, desta angústia é essencial para a superação. Na roda de TC esta jovem pode compartilhar seu desamparo e sentir-se amparada.
Quando ela terminou de falar ela deu um suspiro de alívio e todos do grupo reproduzimos o mesmo som. Então eu perguntei para o grupo: Quem aqui já se sentiu sem chão? Um participante disse ter se sentido assim quando foi traído pela namorada, outra quando o marido morreu e ela ficou sem a casa. A primeira encontrou amparo nas conversas com os amigos, a outra correu atrás de solucionar sua vida e de seus filhos, esta senhora disse: “o único conforto é saber que esta dor passa!”.

domingo, 4 de setembro de 2011

Crack tire essa pedra do caminho (link para CUFA)

Ontem, no Congresso Nacional de Terapia Comunitária, tive a alegria e a tristeza de assistir um parte da palestra do Preto Zezé, presidente nacional da CUFA, Central Única das Favelas. A CUFA trabalha em várias frentes nas favelas do Brasil, mas o que me sensibilizou foi o tema apresentado, o crack. A ONG está lançando um documentário sobre a forma como o crack tem desagregado as famílias e a sociedade brasileira.
Chamou-me a atenção a constatação do Preto Zezé sobre a diferença entre o crack e outras dogras. Segundo ele, as drogas anteriores permitiam que o viciado convivesse em família e sociedade, "o sinônimo de crack é desagregação" disse o palestrante. Com o crack o usuário deixa de conviver com a família, ele vende tudo o que tem. "Vi gente que vendeu até as portas da casa pra se drogar" disse um usuário no documentário.
As consequencias sociais desta droga são devastadoras, elas alcançam todos nós, inclusive eu e você. O índice de abandono de menores subiu assustadoramente. Muitos meninos que estão nas ruas perderam seus pais para o crack, alguns ainda vivos, presos (no presídio ou na droga), outros mortos. O crescimento dos roubos, da prostituição infantil, de abortos espontâneos, doenças como a pneumonia e sequestros também estão relacionados ao uso do crack. Você sabia que o uso do crack é a terceira maior causa de morte no Brasil? Isso é uma epidemia!
O crack é uma droga relativamente barata e ao experimentar pela terceira vez a pessoa já está viciada, num caminho sem volta. O que leva estes jovens e adultos a usarem o crack? O que as famílias podem fazer para minimizar esta tragédia? O que a Terapia Comunitária pode fazer? O que você, profissional da saúde, pode fazer por isso? E você cidadão? O que o terapeuta comunitário pode fazer contra o crescimento do crack? Eu decidi falar, escrever, de alguma forma chutar esta pedra do caminho do meu irmão. Na proxima postagem falaremos a respeito da prevenção.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Postagem 101

Acabo de perceber que ontem publiquei a postagem de número 100. Obrigada a todos que acompanham e torcem pelo meu trabalho. Então vamos a mais uma.

Fui despretensiosamente para a roda de terapia. Ainda estávamos nos aquecendo quando uma jovem disse: Eu não tenho nada pra comemorar. Estou com uma dor de cabeça a mais de 10 dias. Eu vivo a base de remédios, quase não durmo de tanta dor.
Eu perguntei se havia algo que a estava preocupando e que poderia estar desencadeando tais dores. Ela disse que tem problemas, mas que eles não teriam relação alguma com suas dores. Eu insisti: aqui acreditamos que o que não falamos pode virar dor. Você quer compartilhar o que a está preocupando? Então ela começou a falar.
Ela e suas filhas voltaram a morar com a mãe (são oito pessoas na mesma casa) e a sua vida está um inferno. Logo no início ela começou a chorar, dizendo: “eu não tenho vontade de voltar pra casa”. Ela tem um filho que mora com o pai e que acha que a mãe o abandonou. “Eu não o abandonei, eu só não posso levar 3 crianças pra casa da minha mãe... Eu me sinto incapaz, tudo que eu faço não tá bom”. Ela falou por um tempo e chorou bastante.
Depois ouvimos histórias de mulheres que, como ela, tiveram que voltar para a casa dos pais com os filhos. Outras partilharam a dificuldade de morar com pais depois de adulta ou de não ter condições de ter uma casa, pois não tinham uma colher pra por dentro da casa. Todas elas superaram, foram à luta. Saíram de porta em porta buscando um barraco pra alugar, saíram da casa dos parentes ou deixaram os maridos. Assim, sozinhas, elas criaram os filhos hoje os filhos adultos são parceiros de caminhada.
Uma participante concluiu dizendo: “nada como um dia após o outro com uma noite no meio”. Eu fui pra casa pensando que gostaria de ser uma milionária alienada, ou alguém verdadeiramente engajada, uma assistente social. Fico me perguntando se apenas oferecer a escuta é suficiente. Eu sei que não é suficiente, mas também sei que é essencial. Uma coisa é certa: eu aprendo mais com essas pessoas o que elas comigo!

domingo, 28 de agosto de 2011

Como nascem os Paradigmas - Grupo dos Macacos





Esta pesquisa me faz lembrar como repetimos valores e preconceitos a partir do que aprendemos dentro da família, onde desenvolvemos habilidades sociais para nos tornarmos quem somos. Na família também aprendemos a repetir padrões de comportamento, formas de agir, pensar e sentir. É no contexto familiar que aprendemos a empatizar ou não com o outro, a sermos preconceituosos, sem nunca termos vivenciado experiência desagradável (banho de água fria) com certas classes sociais.
É preciso refletir sobre o que é meu e o que é dos outros. É difícil, mas possível, descobrirmos o que não nos pertence mais. Às vezes precisamos abrir mão de algumas heranças parentais para descobrirmos nossa forma de ser no mundo. Estou segura que a nova forma de ser sempre terá influencias da nossa história. Afinal, por pior que seja a família, é esta que temos e aprendemos a amar e odiar.

domingo, 21 de agosto de 2011

Não consigo perdoar minha filha


Em outra oportunidade esta mãe contou ao grupo sobre a dificuldade que ela tem em aceitar a gestação da filha. Agora, com 8 meses de gestação, os conflitos continuam. Uma frase se destacou na sua fala: Eu quero ir até ela, quero abraçar, mas há algo que me segura...eu não consigo. Na sequencia outra participante da roda disse que a dificuldade dela em perdoar foi superada, porque ela pediu a Deus que lhe desse um coração maleável. Outra disse que conversar é a melhor solução: as vezes a realidade não tem nada a ver com o que passa na nossa cabeça.
Uma terceira participante contou, em detalhes, a sua história que é muito semelhante. Ela relatou que enfrentou tudo e todos para defender sua filha que engravidou aos 15 anos. Hoje o neto já tem 16 anos. Ela disse para a participante que está angustiada: Eu sei exatamente o que você está passando, eu sofri, descabelei, chorei, tive vergonha, fui criticada. E hoje estou aqui, rindo do meu passado!
Mas e o perdão? E a dificuldade de acolher e abraçar? Ressaltamos que as pessoas mais difíceis de perdoarmos são aquelas que mais amamos, que depositamos expectativas em relação a elas. Nos decepcionamos porque temos expectativas em relação ao outro. Expectativa, decepção e perdão estão direta e proporcionalmente ligados.

domingo, 14 de agosto de 2011

Lançamento do Livro

O livro TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA SEM FRONTEIRAS foi organizado por Henriqueta Camarote, eu e Adalberto. A proposta deste livro é oferecer subsídios para que os estudiosos da TCI possam responder a algumas de suas inquietações e aprofundar as correlações percebidas com diversas referências teóricas.
Esta obra representa uma convergência de diferentes olhares, princípios e práticas desta metodologia. Os articulistas, de nacionalidades e abordagens diversas, atuam com a TCI em vários contextos sociais. Os capítulos estão organizados em três partes: Filosofia e Ciências Humanas, Abordagens Terapêutica e Aplicações nas Políticas Públicas da Saúde e Educação. Este livro contou com o apoio do Movimento Integrado de Saúde Comunitária do DF.
O livro será lançado no dia 31 de agosto, na primeira noite do Congresso de TCI, em Santos-SP. Em breve lançaremos em Brasília e Fortaleza.

Que pai é você? (vale pra mãe)

No passado, não muito longe, as mães eram as responsáveis pelo desenvolvimento emocional, psíquico, cultural, físico e social de seus filhos. Aos pais cabia apenas sustentar e demonstrar seu afeto não deixando faltar nada. Quando eu era criança, recentemente (sorrisos), os pais já começavam a ocupar outros espaços na educação de seus filhos: conversava, orientava, abraçava. Hoje, a distribuição dos papeis está mais equilibrada.
Eu sinto que hoje os papeis estão menos definidos, e isso é bom! As bulas, que orientavam o papel do pai e o da mãe, estão ficando mais parecidas. Alguns papeis nunca mudarão, principalmente na primeira infância, pois quando o filho é bebê a mãe fica meio misturada com ele, bem mais que o pai. Conforme o bebê cresce cabe ao pai dizer: "essa mãe é sua, mas a mulher é minha!"

Estou dizendo que pai e mãe têm funções diferentes, mas podem fazer as mesmas coisas. Desempenhar papeis é diferente de ter função de pai e de mãe. Tanto pai quanto mãe podem dar carinho, levar ao cinema, corrigir, orientar, por limites, amar... Mas a função materna e a paterna são distintas. O que não impede que na falta de um o outro ocupe as duas funções.
Mas nem tudo são flores ainda há muitos filhos que não sabem quem são seus pais, outros têm na figura paterna a encarnação da violência e do vício. Há filhos que não sabem o que é conversar com o pai. Vejo isso nas rodas de Terapia com os adolescentes. Mas também vejo pais tentando resgatar este espaço com os filhos na Terapia com adultos.
O outro extremo da classe média e alta é de pais submissos aos filhos. Um pai sem autoridade, no meu ponto de vista, não é um pai, é um tolo. O pai precisa assumir o seu lugar de pai, mas alguns acham que os filhos são tão importantes que não podem ser contrariados. Estes pais criam reizinhos tiranos, princesinhas tiranas, filhos sem limites.
Como eu sempre digo: criar filhos é fácil, difícil é educá-los! Sempre há tempo para recomeçar. Para reconhecer o poder que tem um pai na vida de seus filhos. Que pai é você? O agressor e tirano? O submisso e inseguro? Ou o pai que busca o equilíbrio?

domingo, 7 de agosto de 2011

Quando sou impotente para ajudar alguém que amo

Esta sexta foi muito especial porque o tema escolhido foi o de uma participante que está na roda desde a sua fundação, 3 anos, e esta foi a primeira vez que ela trouxe um problema para a roda. Esta senhora é uma excelente observadora, após um ano participando regularmente das terapias ela começou a falar no momento de partilha. De lá pra cá aprendemos muito com suas experiências, uma pessoa amorosa, divertida, dedicada à família ... uma lutadora. Foi preciso 3 anos para que ela pudesse abrir seu coração e chorar diante de todos.
Iniciamos a roda fazendo massagem nas mãos, tocando nossas mãos e falando o que podemos fazer com as mãos. Na transição para a escuta dos temas eu perguntei: o que você gostaria de fazer com as suas mãos e não pode?
Nossa querida participante tem uma neta, filha do seu filho que faleceu no ano passado. Ela está vendo a neta sair da escola e ficar sem estudo, sem um futuro. Porém a mãe da menina é a responsável legal e parece não orientar a filha de forma adequada. A avó diz sofrer e se sentir impotente diante do que está acontecendo. Ela gostaria de estender sua mão e conduzir a neta para um futuro melhor.  No grupo ela pode nomear seus sentimentos, verbalizando entendeu  melhor o que se passa dentro dela.
Ao abrir para a partilha eu perguntei: quem já se sentiu impotente em relação a uma pessoa querida? Outra participante contou que está passando pela mesma situação. Dois sobrinhos foram assassinados por gangue e a irmã deles está indo por caminhos semelhantes. Esta tia sofre porque não pode fazer muita coisa por esta menina, que mora com a mãe que não tem autoridade sobre a filha de 13 anos, que também abandonou a escola.
Quando vemos alguém que amamos, nosso sangue, ir por caminhos tortuosos sentimos uma dor imensa. a dor ainda pode ser mais complexa se não podemos fazer nada para ajudar. Nossa vontade é de tomar a pessoa pela mão e conduzi-la pelo bom caminho. Estendemos a mão mas a mão não alcança a pessoa. Cada um tem uma história pra viver e normalmente não podemos impor nossos ideais aos que amamos. Nesta roda não encontramos uma solução para os problemas. Apenas ouvimos as duas com muita atenção. Ao final expressamos nossa solidariedade e destacamos o amor que elas têm pelos seus familiares.

domingo, 31 de julho de 2011

Três anos de TCI em um órgão público

Nossa roda com os adultos, nesta semana, foi de celebração. Éramos mais de 40 pessoas reunidas. Não foi uma roda de TCI, mas de "causos". Numa primeira rodada falamos sobre o que tínhamos a comemorar: aniversários, aprovações, superações, vitórias, aprendizados e alegrias. Depois abrimos para os "causos", foram histórias do passado, gente que não passou fome ou dormiu na rua porque achou dinheiro na rua. Cada história era ilustrada por uma música ou por uma piada.
Neste dia falamos dos vícios e desgraças da vida de uma forma engraçada. Um dos temas foi o alcoolismo, não falamos, neste dia, das tristezas e mortes que o vício impõe às famílias. Contamos piadas de bebuns que fazem de tudo por uma bebida.
Há alguns participantes que estão na roda desde o primeiro encontro, outros já não trabalham mais por ali e muitos novos chegaram. Em três anos percebemos que os participantes aprenderam a falar mais de si, a se  conhecerem melhor, a ensinarem com suas experiências. Eu percebo melhoria nas habilidades sociais como falar em público e saber ouvir sem criticar ou aconselhar. O que antes estava misturado (o que é meu e o que é do outro), nos últimos tempo, tem ocupado lugar distinto na vida das pessoas, cada coisa no seu lugar. Os participantes da roda começam a perceber que cada pessoa é uma e que o ponto de vista de uma nunca é o mesmo da outra. É muito bom ver as pessoas crescendo juntas e eu tenho aprendido muito com este grupo, que para mim vale ouro.

sábado, 23 de julho de 2011

Violência doméstica e o sofrimento dos filhos

Hoje tivemos uma roda de Terapia com os adolescentes. Um garoto disse: As brigas dos meus pais me tiram o sono. Foi como pipoca na panela, uma estourando após a outra. Vários meninos contaram suas experiências. Pais que se separaram em função da violência, mães que apanham de padrastos, tios que espancam as tias, mães que maltratam os filhos.
Enquanto eles falavam um misto de tristeza e amor materno me invadia: Meu Deus! Se eu pudesse tirá-los deste ambiente...como posso aliviar estas dores...será que o que eu faço faz alguma diferença? Então eu agi, como diria Winnicott, de forma espontânea e cuidadora.
Eu ouvi atentamente cada história. Tentei ajudar cada um a nomear os sentimentos em meio a esses contextos de violência. O clima foi ficando sério, pesado, os garotos que riam e debochavam dos outros se calaram, por respeito e identificação com o tema. Eu perguntava no momento da partilha: você sabe o que sente o fulano ao ver os pais brigando porque você também sentiu medo, não é?
Dois garotos apresentaram a forma como a família superou: Nós deitávamos todos juntos e chorávamos juntos. Um dia, que a minha mãe tava calma, nós falamos que não agüentávamos mais tanta violência, que ela tinha que parar, antes que algo pior acontecesse...ela teve agente muito nova, não tava preparada, ela fazia coisa que nenhuma mãe faz. A partir desse dia tudo começou a mudar.
Outro menino contou que os pais separaram após vários espancamentos mútuos. Sua mãe se casou novamente, agora são evangélicos, resolvem as diferenças conversando e que o casamento deles se fortalece a cada dia e o amor aumenta. Outros participantes ainda não superaram, continuam vivendo com medo.
Concluímos que é muito triste viver a violência em casa, que as marcas (os traumas) ficam. Chamei a atenção para o fato de que alguns deles têm reproduzido a violência com os colegas e irmãos. A conotação positiva foi para a força que eles têm para continuarem vivos e cheios de vida em meio à violência. Ao final tentei falar de paz, todos falaram palavras positivas como: esperança, paz, educação, respeito, alegria, harmonia, diversão, tranqüilidade. Terminamos de mãos dadas e com um grito coletivo da palavra AMOR!
Saiba mais sobre a violência doméstica infantil no Brasil: http://sites.google.com/site/violenciainfantilturma3107/violencia-domestica-infantil

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O terapeuta comunitário atuando com adolescentes e crianças

Considero essencial a postura do terapeuta comunitário no trato com crianças e adolescentes, mais central que numa roda com adultos. Este meu argumento se baseia no fato de que os pequenos participantes ainda estão em formação, tanto física, como psíquica e moral. Estão em busca de modelos a seguir. Prova disso é a forma como eles vêm seus ídolos, eles idolatram incondicionalmente alguns cantores, grupos ou jogadores. No microssistema (bairro ou escola) eles se agregam em turmas ou gangues, que confirmem a identidade do grupo. Eles querem dizer quem são, qual o seu perfil.
Feita esta introdução digo que a figura do terapeuta é central, como modelo, padrão de valores a seguir, modelo de afeto, de respeito. O olhar confirmador do terapeuta, como a conotação positiva, pode desencadear um processo de mudança inimaginável. Mas é preciso que o terapeuta acredite que isso pode acontecer. Todos os jovens participantes de uma roda são resilientes e podem transformar suas feridas em pérolas.
O terapeuta demonstra que acredita no grupo antes de iniciar a roda, quando ele a prepara com antecedência. Observe a faixa etária, o perfil, os interesses eescolha a dinâmica apropriada para eles. Se errar...tente outra. Após a roda avalie SEMPRE, é muito importante, identifique o que deu errado e invista no que foi sucesso, eles adoram atividades repetidas, que eles já conhecem. Se eles gostaram muito de uma dinâmica, pergunte se querem repeti-la em outra roda. Mas tenha sempre um plano B. Prepare duas ou três dinâmicas para caso de eventualidades.
Durante as rodas, seja firme e amoroso ao mesmo tempo. Como? Cada terapeuta tem suas características. Se você é muito meiguinha encontre um parceiro que seja mais firme, menos flexível e vice-versa. Sempre cumpra o que prometeu, nunca prometa o que não pode cumprir. Seja flexível, mas com moderação. Tenha o controle total da terapia, exija que sigam as regras.
Vou contar uma historinha que aconteceu comigo: eu sempre cobro que sigam as regras, eles até criaram algumas como levantar a mão pra falar. Um dia eles estavam muito agitados e eu disse: meninos eu deixei meus filhos sozinhos e dirigi 30 quilômetros pra estar com vocês. Eu amo estar com vocês, mas quero ser respeitada, como eu respeito vocês. Se vocês continuarem com esta bagunça eu vou embora.
Acho que estávamos na escolha do tema quando eu pedi pela segunda vez por colaboração e silêncio. Então um deles foi muito desrespeitoso comigo. Eu disse: eu não admito ser tratada desta forma. Quero ser tratada com o mesmo respeito que trato vocês. Pequei minha bolsa e fui embora. No outro sábado eu não apareci, eu realmente estava chateada. Quando voltei...(me emociono ao lembrar) nunca fui tão bem tratada, aí eu retribui com abraços e beijos. Foi um dia especial pra mim!

sábado, 9 de julho de 2011

TCI com adolescentes e crianças

No último mês tenho recebido vários emails, de pessoas interessadas em conhecer mais sobre a terapia comunitária com crianças e adolescentes. Então, resolvi postar algumas repostas que tenho dado aos internautas (em duas partes).
Há pouca coisa publicada sobre a TCI com crianças, pelo menos até onde eu sei. Lançaremos um livro em agosto: A TCI sem fronteiras, no VI Congresso Brasileiro de TCI, de 31 de agosto a 3 de setembro, em Santos. Neste livro há um capítulo meu sobre a Terapia Comunitária e a sua importância na formação de novos padrões vinculares para crianças e adolescentes.
Já soube de rodas com crianças em que a escolha do tema, terminou em briga e terapia foi interrompida, acabou na votação. Houve empate na escolha do tema e os terapeutas refizeram a votação, os que queriam falar sobre o tema que não foi escolhido saíram da roda. Isso quase aconteceu comigo. O que eu fiz? Uma vez propus que no final faríamos outra roda pra discutir o tema com os interessados. No final da terapia, eu encerrei a roda e falei: agora vamos discutir o tema da quadra de esportes do bairro, quem quiser pode sair. Quase todos ficaram. Outra vez trabalhamos os dois temas, primeiro um e depois o outro; numa roda com temas semelhantes eu juntei os dois temas em um só mote, que contemplou as duas crianças e todo o grupo.
Aprendi que não podemos fazer uma roda de TCI com crianças sem preparo. Sente, pense, escolha a dinâmica apropriada para a idade, material necessário: papel, giz, barbante etc... A dinâmica deve ser a cara do grupo. Como faço com garotos, que querem jogar futebol logo após a roda, faço atividades/dinâmicas curtas. Porém, se você é professora...em uma sala de aula a dinâmica pode ser longa, se temos tempo e as crianças estão disponíveis, podemos estender a dinâmica. O tempo de duração também está diretamente relacionado à idade dos participantes. Se são crianças entre 6 e 9 anos, eu penso que a terapia não deve durar mais de meia hora. Mas se são adolescentes de 13 a 17 podemos estender o tempo e nos aprofundar, com perguntas que os ajudem a refletir mais sobre o tema.
A próxima postagem será sobre a importância e atitude do terapeuta numa roda de TCI com adolescentes.
Publicação que cita TC com crianças, espero que ajude os interessados:

sábado, 2 de julho de 2011

TC: possibilidades de resiliências

Após a dinâmica, que postei anteriormente, eu perguntei quem gostaria de desenvolver o que havia apresentado brevemente. Uma participante contou como tem sido difícil pra ela ver a sua filha mentindo. Ela disse que teve que pressionar a jovem a contar o que estava acontecendo: “eu já sabia que ela estava grávida, mas queria ouvir dela...eu fui a última a saber...” Acontece que a filha é muito jovem e engravidou de um homem bem mais velho. Esta mãe sempre falou com as filhas, são três, que não apoiaria nenhuma gravidez antes do casamento: nas palavras dela: “tem que assumir sozinha o erro que cometeu”. A própria mãe também engravidou cedo, casou-se com 16 anos e sofreu muito no casamento; "minha mãe nunca apoiou meus erros". A filha mais velha também engravidou cedo e fugiu de casa porque a mãe (a participante) não apoiou. Agora a segunda filha está com quatro meses de gestação. Enfim, o problema que ela trouxe é basicamente: “como vou contar pro meu marido? (que não é o pai desta segunda filha, apenas da terceira); terei que cumprir minha palavra e não apoiá-la, como minha mãe fez comigo. O pai da criança não vai assumir e minha filha nem trabalha ainda!” Perguntei ao grupo quem já havia passado por uma situação semelhante. Quase todos tinham algo a contar, três mulheres contaram que também engravidaram cedo e não tiveram o apoio da família. Cada uma agiu de uma forma diferente quando as filhas cresceram: Uma delas contou que a filha engravidou nas mesmas condições e a família a apoiou, vejo aqui uma família resiliente; Outra mãe disse que assim que a filha contou que não era mais virgem ela levou a filha e o namorado ao ginecologista, para orientações e preservativos; A terceira sempre foi uma mãe que falava de tudo abertamente, mas que põe limites para a filha, como horário pra chegar, a mais nova não pode namorar etc..., mas já deu preservativo para a filha mais velha e orientou a tomar remédio quando resolver iniciar a vida sexual: “eu cuido, mas sei que quando ela quiser vai fazer, quer eu queira quer não...e tudo que é proibido é mais atraente, então eu não proíbo, só oriento”. Apessoa que apresentou a questão ouviu estas e outras falas, inclusive de homens. Ao final ela disse: "continuo não aceitando, não vou apoiar este erro". Eu pedi pra ela acolher aquelas falas e pensar um pouco mais antes de agir. Percebo que cada ser humano percebe e elabora de forma única sua experiência de vida. Uma ressignificou seu sofrimento e, de forma resiliente, aceitou a gravidez da filha. A segundo agiu de forma preventiva e franca; a outra cuida para que não se repita a mesma história. Mas, numa roda de TC, observando a resiliência da outra é possivel reinventar formas diferentes de convivência em família, que não a dos nossos pais. Após duas semanas a participante pediu pra falar, na roda: "consegui contar pro meu marido, conversei com minha filha, eu não disse que iria apoiá-la, mas também não vou jogá-la na rua, né!". Muitas vezes é preciso romper com as tradições, deixá-las presas numa fotografia e fazer diferente!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Uma dinâmica que favorece a expressão, a fala, no grupo

Após conhecermos os participantes de primeira vez, apresentarmos o que é a TCI e as regras, passamos pra uma dinâmica de apresentação e expressão de sentimentos. A ideia principal é que todos falem o porque de estar ali, como estão se sentindo naquele dia, o que esperam encontrar naquele grupo etc... O segundo objetivo é favorecer o acolhimento, fazer com que a pessoa se sinta apoiada, ouvida. Com todos em pé e de mãos dadas, na roda, um participante inicia a dinâmica colocando o pé direito à frente: Eu me chamo Fulana, hoje estou triste e peço o apoio do grupo! Todos colocam o pé direito à frente, dentro da roda, e dizem: Nós te apoiamos! Ao retornar ao lugar damos, todos juntos um passo para a direita, fazendo com que a roda gire, se movimente. O próximo, a direita de quem falou, coloca o pé à frente e diz: Eu sou Beltrano, vim aqui porque disseram que é muito bom e eu estou com alguns problemas lá em casa e peço o apoio do grupo. Todos, com a perna direita à frente, respondem: Nós te apoiamos! Após todos falarem nos sentamos e o terapeuta pergunta como foi falar e receber o apoio do grupo. Neste ponto já podemos partir para a escolha do tema, se três ou 4 pessoas desenvolvem o que foi dito na apresentação o terapeuta pode dizer: Podemos escolher um desses temas que vocês trouxeram para o grupo escolher um deles e discutirmos hoje? Eu nunca vi ninguém dizer que não quer ser ouvido um pouco mais sobre o seu problema. Eu gosto muito desta dinâmica. Porque de forma espontânea todos falam, até os que nunca falam em público começam a desenvolver esta habilidade. Em segundo lugar todos se sentem acolhidos, com seus problemas. A fala de um encoraja o outro a falar, da primeira à última pessoa percebe-se uma evolução nas falas, que vão ficando mais sinceras e profundas. Nesta semana a pessoa que trouxe o tema participava pela primeira vez de uma roda de Terapia Comunitária. Acredito que esta dinâmica favoreceu a sua expressão no grupo. Na próxima postagem vou contar sobre a angústia desta mãe e sua relação com sua família.

domingo, 5 de junho de 2011

Espaço para escuta, do luto por óbito fetal, em hospitais

Esta semana falamos sobre gravidez. Uma participante do grupo está grávida e compartilhou um pouco sobre suas expectativas em relação à maternidade. Então vou aproveitar pra postar o resumo de um trabalho que apresentei no CONPSI/2011, em Salvador.

Uma grávida carrega em sua bagagem inconsciente e gestacional todas as suas fantasias de menina segundo o modelo identificatório materno-feminino. Quando uma mulher dá à luz um filho saudável ela vivencia um luto em relação ao bebê imaginário. Porém, o luto materno por perda habitual de feto é ímpar. Óbito fetal é a morte do feto após a 20ª semana, quando a mulher sofre perdas fetais habituais ela é ferida narcisicamente. Para Freud o luto não é uma condição patológica é um sofrimento legítimo por alguma perda. O natimorto não possui certidão de nascimento, nem nome. Nomear o filho facilita o desinvestimento da mãe na gravidez anterior e investimento na atual. A nomeação do filho estrutura a percepção da mãe e organiza suas sensações. Esta apresentação tem como objetivo oferecer reflexões teóricas e práticas acerca da experiência de atendimento em grupo com gestantes que sofreram óbito fetal. Os atendimentos objetivam a prevenção e a promoção da saúde mental entre as gestantes. Os encontros com as gestantes acontecem no ambulatório pré-natal do Hospital Universitário de Brasília e são semanais. Identificou-se falta de reconhecimento social do luto por óbito fetal e de apóio dos profissionais e de iniciativa pública destinada ao enfrentamento dos problemas de saúde da mulher no cuidado com o luto. Os efeitos da negação do luto são nefastos para o psiquismo da mãe, pois obstrui a possibilidade de representação do filho, com prejuízo do teste de realidade. Sugere-se a criação de um espaço de escuta para que a mãe possa ressignificar os sentimentos vivenciados neste contexto, capacitação de profissionais da saúde.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Egoísta, eu?

Na semana passada o tema foi trazido por uma jovem estudante que tem participado do nosso grupo nos últimos dois meses. Segundo ela o seu namorado tem falado que ela é egoísta. Perguntei se ela concordava e ela disse: “Eu acho que sou egoísta mesmo!” Enquanto ela falava fizemos várias perguntas com o objetivo de que ela percebesse quando começou a agir desta forma, o que a levou a ser assim. Ela contou que quando era pequena passou um período muito doente, ficava internada por meses. Nesta época sua mãe ficava por conta dela, cuidando e paparicando. No momento da partilha um participante contou que por ter sofrido muito na vida decidiu ser egoísta e orgulhoso, como uma forma de se proteger. Nos relacionamentos amorosos ele diz não se entregar para não sofrer e que prefere que a parceira sofra. Outra pessoa contou que também se sente egoísta na relação com o marido e que ele reclama de suas atitudes. Parece que só identificamos nosso egoísmo na relação com o outro se estamos sós ou se alguém não nos mostra nossa postura não a percebemos. Por outro lado é complicado afirmar que somos egoístas só pelo olhar do outro. E se o outro for o egoísta da relação e quiser que eu ceda cada vez mais com este argumento? No caso trazido pela jovem ela se reconhece como egoísta e diz querer mudar para se relacionar melhor com o namorado e os amigos. Ela quer ver o lado do outro, o que parece ser muito saudável. Concluímos que quando o assunto é egoísmo devemos buscar o equilíbrio, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar! Nem ficar com a coberta toda, nem ficar descoberto!

domingo, 29 de maio de 2011

Dinâmica de apresentação

Esta semana aprendemos uma dinâmica de apresentação. Com todos em círculo e em pé uma pessoa inicia a apresentação. Ela sai caminhando por fora da roda, enquanto todos podem, ou não, estar cantando uma música. A primeira pessoa para por trás da que escolheu, esta se vira e as duas se apresentam. Falando o nome e um adjetivo que comece com a mesma letra do nome. Por exemplo: Olá, meu nome é Regina e eu sou radiante; Muito prazer eu sou João e me sinto jovem! A primeira pessoa que caminhou passa a ocupar o lugar da que foi escolhida. A segunda sai e escolhe outra e se apresenta (pode nesta outra apresentação falar outra qualidade que possui) e assim sucessivamente. Achei interessante que todos ajudavam a outra pessoa a se qualificar positivamente. Algumas vezes cantávamos músicas com os predicados que as pessoas se davam. Após a segunda pessoa se apresentar e dizer, por exemplo: eu sou bonita. O grupo espontaneamente iniciava uma música com a palavra bonita. Mas esta parte fica a cargo da espontaneidade. Assim, além de ter uma qualidade reconhecida no grupo a pessoa ganha uma música! Após todos se apresentarem e se qualificarem podemos sentar e comentar como foi pra cada um falar publicamente uma ou duas qualidades que possui. Para algumas pessoas é super difícil o que torna um exercício rico. Se você fizer com o seu grupo me conte como foi!!

sábado, 7 de maio de 2011

Ser mãe...uma vocação de toda mulher?

Esta semana fizemos uma roda um pouco diferente, com um tema estabelecido: qual a sua experiência com a maternidade? Muitas mulheres partilharam ... Uma delas contou-nos sua experiência na luta por ser mãe com gravidez de alto risco, seu primeiro filho nasceu morto, a segunda gestação também foi de alto risco, na terceira ela engravidou com o DIU: "foram 8 meses de pavor!" Lá pelas tantas ela disse: "afinal o sonho de toda mulher é ser mãe!" Será? perguntei eu. Eu acho que a maternidade é uma opção, ou deveria ser. Aprendemos desde pequenas a brincar de boneca. Dizem que estamos ensaiando para ser mãe. Rubem Alves, como todo psicanalista, acha que brincadeira é coisa séria. Então, brincamos por brincar, não para ensaiar algo que faremos no futuro. É claro que no brincar desenvolvemos habilidades, mas este não é o objetivo da brincadeira. Brincamos de boneca porque todas brincam, não para aprender a ser mãe, como nossa mãe. Talvez apenas imitamos nossa mãe, como quando calçávamos seus sapatos altos. Ser mulher e ser mãe são dois lados de uma mesma moeda, como possibilidades de estarem juntas, mas não necessidade. Em nosso discurso os dois lados são apresentados como uma certeza! Eu acho que aprendemos que devemos desejar ter filhos, é um sonho aprendido! É importante dizer que não estou falando, apenas, de gerar ou parir filhos. Você pode parir e nunca ser visitada pelos sentimentos de angústia, medo, amor, ternura, saudade, responsabilidade, alegria, culpa e preocupação que fazem parte de toda maternidada. Mas pode sentir estes afetos maternais sem ter parido. Amo profundamente os meus filhos, é óbvio! Mas se eu não os tivesse minha vida não seria vazia. Uma mulher pode fazer mil coisas que não seja ter filhos. Se, por acaso, você tem dúvidas se realmente deseja ter filhos, não se envergonhe. Você é normal sim!!! Ser mãe não é vocação de toda mulher, é uma escolha. Eu amei a minha escolha, e você?

domingo, 1 de maio de 2011

"Todas as portas se fecharam para mim"

Uma roda de terapia comunitária que começou com um tema negativo transformou-se em uma roda positiva: confirmação das resiliências. Um participante da roda trouxe o tema de forma pouco específica, não contou detalhes. Disse que estava tentando resolver algo em sua vida e que todas portas haviam se fechado para ele.
Perguntei ao grupo: Quem já se sentiu como se todas as portas estivessem fechadas e como superou? A primeira fala foi de Ana: ela parou de trabalhar ao se casar. Quando seu marido foi demitido ela achou que não iria dar conta das dificuldades. "Eu ficava chorando dentro do quarto, estava com dois filhos pequenos, foi horrível!" Mas Ana conseguiu superar esta fase, voltou a estudar (terminou o segundo grau), tirou carteira de motorista, trabalhou como motorista de ônibus, foi funcionária de uma loja e comprou a casa própria.
Outra participante contou que um dia seu patrão disse: "não preciso mais dos seus serviços a partir de hoje". Ela disse: "pensei que meu mundo fosse desmoronar". Perguntei o que ela sentiu na época e o que sentia agora ao contar sua história. De acordo com ela "foi a melhor coisa que me aconteceu...minha vida é muito melhor hoje...se ele não tivesse me colocado na rua eu estaria na mesma situação até hoje".
Outras três pessoas também compartilharam suas experiências, na mesma linha: superação e vitória. Concluímos que quando as portas estão fechadas precisamos agir, bater em cada uma, até encontrar uma saída. Ao olharmos para trás identificamos as dificuldades que passamos e verbalizando as experiências, no grupo, reconhecemos nossas competências. Assim, acreditamos, mais uma vez, que somos capazes de abrir outras portas, quando todas parecem estar fechadas. Há um versículo que gosto muito: Quero trazer à lembrança o que pode me dar esperança!
O efeito de uma roda como esta para o grupo é muito forte. Além dos que falaram reconhecerem o quão são resilientes ajuda todos a relembrarem suas competências e se enchem de esperança para superar as adversidades. Descobrimos, todos, que é comum a todos viver dificuldades e superá-las. Afinal, a terapia é do grupo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ambivalência na relação mãe e filha

Nossa última roda de TCI mobilizou quase todos os participantes. Uma participante contou-nos que descobriu ter uma doença, com a qual terá que conviver por algum tempo, disse que se sentia angustiada com a situação e sozinha por estar longe da mãe. Também compartilhou sentimentos que se alteram com certa facilidade, como alegria e tristeza. Ao abrir para que os outros pudessem contar suas experiências o tema foi naturalmente se focando na relação mãe e filha(o).
Vários participantes contaram como a presença da mãe é importante para a estruturação e equilíbrio do psiquismo: “minha mãe era tudo pra mim”. A relação mãe e filha é permeada por ambivalências. Para a psicanálise a ambivalência caracteriza-se por sentimentos antagônicos, presença de amor e ódio, aproximação e afastamento. Tais sentimentos estão presentes em toda relação que se desenvolve em profundidade. Especialmente na relação mãe e filha, porque nesta há muitos conflitos inconscientes que conduzem a conflitos, repletos de afetos. Como na fala de uma pessoa do grupo: “eu e minha mãe brigávamos muito...hoje somos muito amigas”.
Concluímos que a variação de sentimentos da pessoa que trouxe o tema não ocorre, apenas, porque ela está doente ou longe da mãe, mas que é uma característica de todo ser humano, assim como o angustiar-se em relação a algo que foge ao controle, no caso a doença. A Terapia Comunitária permitiu que os participantes se identificassem com este tema e reconhecessem suas ambivalências.

domingo, 27 de março de 2011

Uma dinâmica pra relaxar

Iniciamos nossa roda massageando nossas mãos. Você pode fazer os movimentos semelhantes aos da reflexologia, e todos repetem. Em seguida pedi que todos fechassem os olhos e espontaneamente continuassem massageando suas mãos. Enquanto isso, refletimos sobre o que fazemos ou poderíamos fazer com as mãos. Cada um foi falando o que veio a mente: "faço carinho em minha filha", "uma comida gostosa". Falamos sobre a capacidade que temos de abençoar ou não com nossas mãos.
Ainda com os olhos fechados, sentados e com os pés em contato com o chão convidei o grupo a massagear, simbolicamente, o coração. Nesse momento, em silêncio, cada um ficou conversando com o seu coração: como ele está se sentindo? Triste? Esperançoso? Angustiado? Com saudades? Do que o meu coração tá precisando? De amor? Conforto? Esperança? Alegria?
Poderíamos ainda refletir sobre a relação que existe entre o que eu faço (mãos) e o que eu recebo (coração). Ao final perguntei: O que seu coração te contou? Esta é a hora de você compartilhar com o grupo o que aperta o seu coração. Na Terapia Comunitária acreditamos que quando falamos sobre nossas angústias o coração fica menos apertado. O resultado foi a postagem anterior, sobre alcoolismo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Histórias que se repetem...ou não!

O tema escolhido foi o de Ana: seu irmão está em crise de abstinência do álcool e tem apresentado alucinações persecutórias, o que desestabiliza e apavora toda a família. No momento da partilha um participante compartilhou sua história: meu pai bebeu a vida toda, hoje meu irmão também é alcoolatra e dá muito trabalho para toda a família. Outra participante contou que seu sogro bebeu por mais de 30 anos, como seu esposo, no período de abstinência ele teve muitas alucinações, mas que a família o apoiou e ele superou o vício por muitos anos. Uma terceira pessoa também tem um pai alcólatra, mas que ela quis construir uma família sem vícios, na casa dela não entra bebidas.
Percebeu-se que as histórias familiares se repetem: Pais com vícios observam que seus filhos desenvolvem vícios. Mas uma das participantes fez diferente na sua idade adulta. Falamos mais uma vez de resiliência. Quando somos feridos, magoados ou vemos nossos pais se destruindo, podemos crescer e fazer as mesmas coisas com os nossos filhos. Mas também podemos fazer diferente, podemos transformar nossas dores em alegrias. Quem nunca recebeu amor pode ser profundamente amoroso com os filhos.
Na terapia comunitária percebemos que temos a nossa frente um quadro em branco e que não precisamos copiar o que nos foi ditado. Podemos, com muito esforço, escrever algo novo. Ao fecharmos a roda convidei cada um a pensar na sua família e quais comportamentos se repetem. Depois refletimos sobre o que cada um tem feito inconscientemente que é idêntico aos comportamentos que antes eram criticados. Por fim pedi que todos ficassem atentos aos seus sentimentos e ações no decorrer da próxima semana.

terça-feira, 22 de março de 2011

Páscoa: o sol vai nascer outra vez!

O Cristo se fez carne e habitou entre nós, morreu e ressuscitou. A ressurreição é uma das metáforas mais belas e que me enche de esperança. A mitologia e a literatura estão repletas desta simbologia. Até a natureza nos fala da metamorfose: a lagarta se transforma em borboleta. Outra metáfora da ressurreição.
Gosto de uma frase: "O destino da lagarta é ser borboleta". E o destino (se é que estamos predestinados) do ser humano é transformar-se em algo melhor. Cada dia que o sol nasce Deus nos dá uma nova oportunidade de fazer um dia diferente do de ontem. Pra onde quer que eu olhe vejo mutação, a transformação, a possibilidade. Todo dia é uma oportunidade para nos transformarmos.
Que nesta Páscoa, você aproveite para fazer como Jesus, que renasça em você uma nova forma de viver, deixando para trás as coisas que não fazem bem a você e aos outros. É preciso ficar atento, como na foto, o homem está em pé olhando o nascer do sol. É preciso que você enxergue a oportunidade para a transformação. Se você não conseguir hoje, não se preocupe porque ... "é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei!"