domingo, 27 de janeiro de 2013

A casa não tinha teto, não tinha nada... sem chão e sem pinico...puro desamparo!

Estamos de volta com nossas rodas de TC, em 2013. Todo ano, ao retomarmos falamos sobre nossas metas para o ano e ajudo o grupo a criar estratégias para alcançar seus objetivos. Desta vez foi diferente...
Soraya (nome fictício) participou pela primeira vez de uma roda de TC, está recém chegada na empresa em que trabalho. Logo que chegou estava sorridente e falante, porém, quando abrimos para a apresentação do tema ela desabou. Soraya morava com a filha mais velha, casada, e outra mais nova, deficiente (com sérias limitações físicas e cognitivas). A filha mais velha a expulsou de casa, chegando a agredi-la fisicamente; o ex-marido pediu a guarda da mais nova e sua mãe faleceu recentemente. Soraya...ficou na rua, sem lenço e sem documento.
A novata chorou muito ao contar sua história recente e disse sentir-se só e frágil. Nós a ouvimos por um longo tempo. Saber ouvir é uma habilidade que o terapeuta comunitário precisa desenvolver. Muitas vezes deixar a pessoa falar é mais importante que fazer perguntas.
Após ela desabafar, lançamos o seguinte mote: “Quem já se sentiu frágil? E o que fez para superar?” Várias pessoas expuseram suas fragilidades e falaram como venceram a seus momentos de fraqueza. Penso que ao sinalizarem, para o grupo, que é possível tornar-se forte após sentir-se quebrado, as pessoas que compartilharam duas dores deram à Soraya a oportunidade de acreditar que tudo passa, até o sofrimento. Ela pode ter se enchido de esperanças. Se as outras superaram...talvez eu também supere?!
Soraya está vivendo um momento de luto. Perdeu a filha mais velha, que preferiu ficar a sós com o marido e excluir a mãe de sua vida; perdeu a mais nova que mora com o pai e raramente pode vê-la: “não sei se estão cuidando dela direito”; perdeu a mãe; perdeu a casa em que vivia (está morando de favor com um parente: “não posso nem dormir na hora que eu quero”). Sem teto, sem parede, sem chão e sem pinico...puro desamparo!
Não sei se, efetivamente, a roda foi frutífera para esta mãe. É claro que nós a acolhemos e mostramos que ela não está só, nós a apoiamos. Mas de uma coisa eu sei, esta história foi útil para mim. Depois desta roda valorizo mais cada detalhe do que possuo.