domingo, 27 de junho de 2010

Enquete: o que você mais valoriza numa TC?

Colegas terapeutas comunitários,
Após ler o livro Psicoterapia de Grupo do Yalon, fiquei me perguntando quais fatores nós, terapeutas e participantes valorizamos mais na TC. Esta semana conversei com uma de minhas mentoras na TC sobre a necessidade de pesquisarmos mais. Assim, estou iniciando a primeira parte da pesquisa que é saber o que você, como terapeuta, considera essencial para realizar uma boa TC. Sugiro que, antes de responder, você leia as postagens anteriores sobre o assunto. Marque no máximo dois itens. Me ajude a enriquecer a pesquisa. Se quiser sugerir um tema, um texto seu ou divulgar algo é só postar um comentário ou enviar email.
A segunda parte da pesquisa consistirá em conhecermos o que os participantes valorizam mais na TC, farei nos próximos meses, por enquanto dê apenas a sua opinião. Espero até o nosso congresso, no próximo ano, compartilhar os resultados com todos para que possamos aperfeiçoar a nossa metodologia a cada dia.
Muito obrigada pela sua colaboração! Teresa Cristina/MISMEC-DF

Os fatores terapêuticos: integração (Yalon)

No primeiro capítulo, postado no mês passado, Yalon divide a experiência terapêutica em 11 fatores, agora ele discute os três últimos.“Diferentes pacientes beneficiam-se de diferentes fatores terapêuticos”. Cada grupo também considera diferentes fatores como relevantes. Coesão grupal diz respeito a ser aceito pelo grupo, a manter contato íntimo, revelar coisas embaraçosas e mesmo assim ser aceito pelo grupo, não se sentir mais só e sentimento de pertença. A cartase é necessária, mas não suficiente. Pois é essencial refletir sobre a experiência emocional para a mudança. A autocompreensão é importante para livrar-se de crenças patogênicas. Neste contexto cria-se um ambiente forte e solidário, coeso. Quanto maior a ambigüidade maior a ansiedade e quanto menor a ansiedade menor a ambigüidade e vice-versa. Os fatores existenciais dizem respeito a assumir a responsabilidade total pela forma como o participante conduz a sua vida. Assim a pessoa se empodera para sumir as mudanças necessárias em sua vida. “Ser responsável é ser o autor inconteste de sua vida”. Outra questão que Yalon destaca é o fato de que nós terapeutas valorizamos nossa técnica e interpretações que fazemos como importantes para o processo terapêutico, enquanto cada indivíduo e grupos específicos avaliam como importantes outros aspectos, como carinho e atenção do terapeuta e do grupo.
Na terapia comunitária, suponho que o participante não considera importante o mote que construímos, ou a dinâmica proposta...é algo a se investigar: O que o terapeuta e o participante da TC valorizam numa roda?
Yalon, Irvin D., (2006). Os fatores terapêuticos: integração In: Psicoterapia de Grupo: teoria e prática. Porto Alegr: Artmed.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Artigo publicado na Revista de Direito Trabalhista - Texto na íntegra na sequencia

Responsabilidade Social Começa em Casa A Terapia Comunitária em Órgão do Judiciário Federal Quando falamos em responsabilidade social pensamos em cuidar do planeta, reciclar o lixo ou ceder o espaço físico da empresa para a comunidade. Todavia, os novos valores sociais abrem espaço para outras formas de gestão responsável. Uma possibilidade de ação inovadora para as organizações seria desenvolver uma ação que favoreça os seus empregados e colaboradores. Uma experiência de responsabilidade social bem sucedida é a Terapia Comunitária. A Terapia Comunitária (TC) é um procedimento terapêutico que pode ser realizado com qualquer número de pessoas, em qualquer nível socioeconômico, com a finalidade de promover a saúde e a atenção primária em saúde mental. Funciona como fomentadora de cidadania, de redes sociais solidárias e de identidade cultural das comunidades. Por ser um trabalho em grupo, atinge um grande número de pessoas, abrangendo questões individuais, familiares, institucionais e sociais. A TC objetiva redescobrir e firmar a confiança em cada indivíduo diante de sua capacidade de evoluir e de se desenvolver como pessoa, reforçar a auto-estima individual e coletiva, estruturar a dinâmica interna de cada indivíduo promovendo as potencialidades e a autonomia. A TC consiste basicamente na realização de dinâmica de interação, apresentação de conflitos vivenciados pelos participantes, partilha de experiências e reflexão sobre o tema escolhido no dia. Há muitos grupos de TC espalhados pelo Brasil, mas poucos deles acontecem no ambiente de trabalho. Um Órgão do Judiciário Federal, em Brasília, realiza um grupo de TC com terceirizados da área de conservação e limpeza. O grupo conta com a freqüência média de 35 participantes, ao todo são 180 trabalhadores, o encontro é semanal, com uma hora de duração no horário de expediente. Nossa experiência demonstra que, ao criar um espaço de troca de experiências no ambiente de trabalho, a organização demonstra valorizar os seus empregados. Neste grupo percebeu-se que os participantes redescobriram seus potenciais e competências, o que resultou na melhora da auto-estima dos participantes e busca por melhor qualificação. Na TC os trabalhadores compartilham estratégias para conviver melhor com a família, os colegas, o trabalho e a chefia, pois alguns problemas de relacionamento são trazidos para o grupo. Como resultado percebe-se melhoria na comunicação e aumento do sentimento de união. A empresa não pode ignorar a necessidade que o ser humano tem de verbalizar, de compartilhar e socializar-se. Estudos indicam que quando o indivíduo fala das questões que o afligem ele elabora sua dor, ressignificando-a e transformando a sua percepção dos problemas que vivencia. A TC cria a oportunidade para que o participante relembre e compartilhe suas superações e conquistas ao longo da vida, favorecendo o reconhecimento de suas competências. Por aplica-se a qualquer grupo de pessoas a TC pode ser implementada em todos os níveis hierárquicos da empresa, visto que todos necessitam de um espaço para falar. Na TC um aprende com a experiência do outro, o que favorece a não repetição do erro. Como, por exemplo: ao ver que um colega ficou doente porque não cuidou de sua saúde no trabalho o outro participante passa a fazer da ginástica laboral uma rotina diária, diminuindo a incidência de doenças ocupacionais. Percebemos nos participantes um elevado sentimento de satisfação por se sentirem ouvidos, valorizados e reconhecidos. A Psicodinâmica do Trabalho assegura que o reconheciemento no trabalho é essencial para a saúde do trabalhador. Nosso trabalho indica que os órgãos e empresas que demonstram um compromisso social com o trabalhador, no nosso caso o terceirizado, colhem frutos. Valorizar empregados e colaboradores, comprometendo-se com a qualidade de vida dos trabalhadores, é uma das diretrizes para a empresa tornar-se socialmente responsável. A instituição que se dispuser a desenvolver um grupo de TC com seus empregados e colaboradores perceberá aumento da integração entre eles; melhoria na comunicação entre os trabalhadores e a instituição; crescimento da motivação e maior busca por qualificação; satisfação com o ambiente de trabalho e maior qualidade de vida e saúde no trabalho. Está comprovado que pessoas que falam sobre seus sentimentos como raiva, mágoa e dificuldade em perdoar possuem mais saúde que pessoas que guardam tudo para si. As implicações para a empresa são várias, dentre elas melhoria do ambiente de trabalho e menor incidência de doenças, que resulta em menos atestados e abstinência. Tais aspectos poderão influenciar de forma positiva a produtividade. Ao oferecer um serviço como este a instituição demonstra responsabilidade social com os trabalhadores de sua “Casa” e estes poderão demonstrar o mesmo com suas comunidades.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O que é bullying?

No mês passado postei um texto sobre bullying na escola. Como recebi alguns comentários e vejo que é uma questão relevante quero falar mais sobre o tema. Bullying é uma palavra inglesa usada no Brasil por não haver, em português, um termo que expresse o fenômeno: colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, encarnar, sacanear, humilhar, fazer sofrer, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar pertences. Às vezes seu filho, ou você, pratica ou é vítima de bullying e não está ciente do fato. Quando acontece há necessidade de diálogo com a escola e os agressores. Culpar não faz avançar na solução do problema, revidar menos ainda. Uma internalta contou que sua filha vem sofrendo bullying na escola. Eu disse a ela: “Penso que em casa você deve deixar claro que sua filha é protegida pela família, ela se sentirá mais segura. Em geral, as vítimas do bullying são pessoas mais frágeis, tímidas, e que demonstram medo. Você pode ajudá-la a ter outra postura diante dos agressores. Se possível, matricule-a em algum esporte ou luta. Não para que ela agrida, jamais! Mas para que ela se sinta confiante, com menos medo. Quando for buscá-la na escola seja firme, encare os agressores, reveze com o pai dela ou uma figura masculina. Procure uma orientação, o psicólogo da escola ou particular. Mudar de escola deve ser a última opção, pois o problema pode se repetir, o que será péssimo para a saúde psíquica de todos, ficará um sentimento de fracasso”.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sentimentos engaiolados

O tema da TC desta semana foi forte: “Meu filho está preso...não sei dizer como me sinto”. Era a primeira vez que M participava do grupo. Durante a dinâmica (do ursinho, postada anteriormente) ela começou a chorar. Na contextualização, momento em que todos ouvem a pessoa cujo tema foi escolhido, M. não chorou, contou sua história e teve muita dificuldade para falar como se sentia após ter lutado 5 anos com o filho drogado e por fim vê-lo preso, por assalto. Ela estava focada, apenas, em narrar sua história. “Ele vendeu tudo da casa...ele me ameaçava...os bandidos estavam na minha porta”. Nosso trabalho se deu na intenção de que ela pudesse nomear seus sentimentos. Eu pedi ajuda ao grupo: como você se sentiria nesta situação? As respostas foram: triste, decepcionada, infeliz, desamparada, sozinha, sem apoio e revoltada. Voltei para M. e ela disse que se sentia sozinha. Perguntei: por que você se sente sozinha? Para responder esta pergunta ela teve que identificar seus sentimentos. Ela saiu do contexto, dos fatos, e voltou-se para si. Ao final da roda ela disse: “Eu nunca estive num lugar como esse, foi bom!”
Algumas vezes nossos sentimentos ficam presos e precisamos de uma luz para clareá-los. A Terapia Comunitária ajuda a iluminar e libertar os sentimentos.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sugestão de dinâmica

Na última roda de TC realizamos uma dinâmica que considero bem sucedida. Todos participaram, falaram, tocaram no colega, foram tocados e se expressaram. É simples, mas surtiu um grande efeito para o momento da partilha dos problemas no grupo. Levei dentro de uma caixa de presente um ursinho de pelúcia. Disse que havia trazido uma coisa para compartilhar com eles. Quando abri uns ficaram desconfiados, outras suspiraram: Hum! Que lindinho! Demos um nome pra ele, o ursinho: Raian. Orientei que o ursinho fosse passado de mão em mão e que, na sua vez, todos deveriam expressar alguma forma de afeto, carinho pro Raian (nome do netinho de uma participante do grupo). Havia 30 participantes, todos tocaram, abraçaram, beijaram, elogiaram, acariciaram o Raian. Quando ele retornou a minhas mãos novamente todos ficamos em pé e orientei: você terá que ter com o seu colega da direita a mesma demonstração de afeto que teve com o Raian. Foi uma graça! Teve gente apertando a bochecha do colega, elogiando os olhos, a maciez (você é tão fofinho!). Foi uma oportunidade para todos se expressarem de uma forma bem lúdica. Ao final fizemos uma breve avaliação da dinâmica: “é difícil falar dos meus sentimentos, hoje quando eu chegar em casa vou falar pro meu marido o quanto eu gosto dele”.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Refletindo na TC sobre o que Yalon ensina (postagem anterior)

Na TC os participantes aprendem uns com os outros. Quando um participante supera a forma como se percebe nos relacionamentos sociais mais amplos, quando consegue reproduzir fora do grupo os vínculos que experienciou na TC ele compartilha com o grupo. Quando um participante narra, na roda, uma experiência diferente de estabelecimento de novos vínculos sociais ele traz esperança e confiança para os demais (esperança). Ao ouvir a experiência de sucesso de um participante, os demais passam a acreditar que são capazes de viver, por si mesmos, novas relações sociais. O aprendizado interpessoal pode levar inicialmente a imitação de comportamentos. A imitação também começa na TC, pessoas que antes não falavam de seus problemas por se acharem únicos descobrem que outros passam por situações semelhantes, o que traz um alívio. Em seguida começam a falar de seus problemas, por que sabem que não são os únicos que sofrem (universalidade). O participante que compartilhou sua experiência se sentirá útil, sentirá que contribuiu com o crescimento dos outros, após ver que eles também desenvolveram novas habilidades sociais. Sentir-se útil é essencial para o desenvolvimento psíquico e social deste e de todos os participantes que contribuem na roda (altuísmo).