terça-feira, 3 de dezembro de 2013

As armadilhas que criamos para nós mesmos


Nesta semana o tema foi inicialmente algo muito simples: “eu não fui capaz de cumprir as metas que estabeleci no início do ano”. Porém, as falas no grupo direcionaram a discussão para o fato de que muitas vezes estabelecemos metas que não poderemos alcançar. E por que fazemos isso?
Parece que muitos de nós praticamos, inconscientemente, a autossabotagem. Nos sabotamos para não conseguirmos cumprir nossos objetivos. E por que fazemos isso com nós mesmos? Esta foi a questão da roda: por que eu faria algo mal para mim mesma?
Qual a origem disso? Talvez seja a falta de autoestima. Entendo que tais atitudes, ou falta delas, seja pelo fato de não nos considerarmos capazes de algumas façanhas na vida, então nos autossabotamos. Por exemplo: uma das participantes estuda para concurso a cerca de três anos. Na véspera de um concurso importante ela viajou para a praia com os filhos e levou o material de estudo...claro que não estudou. Nesta linha poderíamos dizer que se esta moça acredita que não vai dar conta de passar em no concurso ela faz de tudo para provar que não será capaz. O resultado é que ela não passou e disse “eu não pude estudar o suficiente”.
Outro exemplo: a pessoa diz que seu sonho é se casar, já teve muitos relacionamentos, engravidou de homens que nunca assumiram seus filhos, se envolve com homens casados. Ela diz que só se envolve com “trastes”. Quando um homem solteiro manifesta interesse em um namoro sério ela põe mil obstáculos e defeitos no pretendente. Será que ela realmente quer se casar? Talvez não se ache merecedora de um relacionamento estável e saudável. Por não acreditar que mereça ser feliz no amor ela se aproxima apenas de homens com os quais o relacionamento não terá futuro. Seria o famoso “dedo podre” para escolher um bom companheiro.
Acredito que o nosso inconsciente é muito poderoso e que nos conduz para caminhos ardilosos, que conscientemente não gostaríamos de trilhar. É preciso estarmos atentos às armadilhas que armamos para nós mesmos e desmontá-las a tempo, para podermos realizar nossas metas...nossos sonhos.

domingo, 6 de outubro de 2013

Ter ou não ter o respeito dos filhos adolescentes

O tema desta semana girou em torno da educação de filhos adolescentes. Uma mãe nos conta que a filha de 12 anos tem dado muito trabalho. A jovem mãe possui três filhos, o mais velho mora com o pai. Ela mora na casa da mãe com as duas filhas de 10 e 12 anos. A mais velha conversa com a mãe apenas o essencial, bate violentamente na mais nova, não tem se dedicado aos estudos e anda com “amigos” mais velhos e suspeitos. Sem diálogo e com agressividade, a convivência está insuportável e a mãe não sabe o que fazer, sentindo-se impotente.
Outra mãe disse que já se sentiu assim e que agora consegue ter autoridade com a filha e que isso tem feito toda a diferença na relação. “Aqui quem manda sou eu e você vai me obedecer” disse Valdenice para sua filha de 16 anos que queria sair tarde da noite para encontrar o namorado.
Autoridade não é uma coisa que se impõe, ao contrário, é construída. Hoje muitos pais se sentem perdidos, sem saber como direcionar filhos revoltados ousem limites. Saber impor limites não é fácil. Winnicott já dissera ninguém melhor que a mãe para maternar seu filho. Eu diria que não há ninguém melhor que os pais para impor limites ao filho. Os pais são os educadores mais habilitados a lidar com os filhos.
Durante a adolescência o filho precisa construir sua própria personalidade, para isso ele negará os pais, desqualificando-os. É preciso que nós, pais, tenhamos maturidade para suportar tais negações e sabedoria para conduzir o filho para o caminho que consideramos correto.
Quando estamos vivendo tal conflito familiar parece que é o fim. Porém, é apenas o início de uma relação futuramente equilibrada. As participantes mais velhas disseram que passaram por isso e que hoje seus filhos são adultos que dominam sua vida. Uma mãe disse que se tivesse sido mais presente no passado, talvez hoje seu filho não estivesse preso.

domingo, 22 de setembro de 2013

Situação dos filhos com pais em novo relacionamento

Muitas vezes nos sentimos irritados, nervosos e não sabemos o porquê. Às vezes é preciso que alguém nos ajude, através de perguntas, a entender o que de fato nos deixa com o estopim curto. O tema escolhido nesta última roda de terapia foi, inicialmente, a questão de brigar constantemente com a mãe.
Pois bem, após ouvirmos a jovem fizemos várias perguntas a ela e chegamos a dois pontos de sua vida que ela considerou mais importantes do que as discussões em casa. Ela sente que a mãe preferiu o padrasto a ela e tem dificuldades em perdoá-los por uma série de questões que seria muita indiscrição descrever aqui.
Bem, o tema ficou entre rejeição e dificuldade de perdoar. Aqui eu vou de falar sobre o sentimento de rejeição quando os pais entram em um novo relacionamento. Quando ele surge? Por que?
É saudável que pessoas separadas e com filhos se envolvam em novos relacionamentos. Porém, é comum que estes pais se dediquem mais ao novo relacionamento que aos filhos (pelo menos no início da paixão) deixando, com frequência, os filhos com a babá ou parentes. É legítimo encontrar outra pessoa e reconstruir a vida conjugal. Mas não é nada bom dedicar-se apenas a este novo amor em detrimento dos filhos, especialmente quando ainda são pequenos. É neste contexto que surge o sentimento de rejeição e possivelmente de baixa autoestima.
Os filhos pequenos sofrem intensamente com a falta dos pais. Mandar a filha (a exemplo da jovem que trouxe seu problema na roda) sair de casa, para morar com a tia, porque ela não se relaciona bem com o padrasto é no mínimo desumano com a criança. Por outro lado, abrir mão de relacionar-se por conta dos filhos é desumano consigo. Lembre-se de que filhos crescem e um dia poderão dizer: “mãe, você não refez sua vida amorosa porque não quis”. Nem tanto ao mar nem tanto à terra.
Então, o que fazer? Penso que buscar o equilíbrio é o mais apropriado. Se os filhos são pequenos devem estar sempre em primeiro lugar, sempre. Namore, mas seu filho pequeno deve saber, sentir e vivenciar que são as pessoas mais importantes para você. Não abra mão de viver sua vida, de se apaixonar, por conta dos filhos. Mas seja responsável com as pequenas vidas que você trouxe ao mundo.
A jovem da nossa história escolheu o tema perdão, pois ainda não perdoou a mãe por a ter rejeitado (pelo menos é este o seu sentimento). Hoje, a mãe não vive mais com o companheiro, a filha voltou para casa, mas o relacionamento com a mãe é péssimo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Matéria que publicada na intranet do TST sobre a roda de TCI

Compartilho, em parte, a matéria que saiu na semana passado na intranet do TST. Neste mês a nossa roda completa 5 anos.
"Servidora do TST há 20 anos, a também psicóloga e coordenadora da Roda de Terapia Comunitária do Tribunal, Teresa Freire lança o livro “A Terapia Comunitária integrativa no Cuidado da Saúde Mental”. Este é o segundo livro em que a psicóloga, em parceria com os doutores Maria Henriqueta Camarotti e Adalberto Barreto, trabalha o tema Terapia Comunitária Integrativa (TCI).
Neste livro, a relação entre a TCI e os princípios e práticas da saúde mental são discutidos a partir da Reforma Psiquiátrica no Brasil. A obra reflete sobre o papel da Terapia Comunitária Integrativa nas propostas terapêuticas da saúde mental e ressalta a importância desta metodologia no desenvolvimento da autonomia e da cidadania das pessoas com sofrimentos psíquicos do cotidiano, assim como portadores de transtornos psíquicos leves, moderados e graves.
Mestre em psicanálise na área de maternidade, Teresa aborda, no capítulo “Terapia Comunitária Integrativa no cuidado da saúde mental da mulher na gestação e no puerpério”, como esse tipo de terapia é uma estratégia importante para cuidar da saúde mental, prevenindo doenças nas mulheres que estão passando por esta etapa da vida. “Quando a boca cala o corpo fala, e quando a boca fala o corpo sara”, afirma.
Terapia Comunitária no TST
Há cinco anos Teresa coordena a Roda de Terapia Comunitária no TST, que atende os colaboradores terceirizados da área de conservação e limpeza do Tribunal. O encontro se dá todas às sextas-feiras às 14h, no térreo do bloco B. No começo, a iniciativa da servidora era apenas de sua responsabilidade. Hoje, porém, a Roda faz parte dos programas do Comitê de Sustentabilidade do Tribunal, do qual Teresa é integrante.
A psicóloga ressalta que a Roda não é uma psicoterapia, e sim uma metodologia para ajudar as pessoas a resolverem seus problemas e compartilharem angústias, experiências e aprendizados. As regras são claras: não é permitido dar conselhos e falar de terceiros; falar de si mesmo é essencial para o resultado da terapia. Deste modo, os integrantes vão aprendendo a ver a vida de outra forma e passam a perceber o ponto de vista do outro. “O segredo da terapia é fazer a pergunta certa e finalizar a reunião com uma pergunta que permita uma reflexão”, diz.
Os resultados são positivos, e Teresa afirma que estes encontros “trazem mais humanidade ao ambiente de trabalho”. Ela conta que integrantes que saíram do Tribunal ainda fazem constantes visitas ao grupo, e dão seus depoimentos relatando como a Roda de Terapia Comunitária  foi importante para a superação de algum problema.
O grupo já chegou a ter 78 integrantes, porém com a rotatividade dos funcionários terceirizados, que frequentemente são demitidos ou transferidos, este número varia, e atualmente está menor - são cerca de 10 participantes assíduos. Para fazer parte do grupo, basta comparecer às reuniões.
(Líllian Couto – Estagiária/MC)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O dia em que me tornei uma mãe desnecessária


Na semana passada eu precisei sair de casa durante a madrugada. Logo, eu não estaria em casa para acordar meus filhos para irem à escola. Eu estava muito preocupada, pensei em várias possibilidades para suprir a minha falta. Então, o meu filho de 16 anos disse: mamãe, não se preocupe, você é desnecessária!
“Desnecessária, eu?” Como assim? Eles não despertariam sem mim, não tomariam café, não escovariam os dentes, não iriam à escola na hora certa. O primeiro impacto foi: Que horror! Depois ele disse: “Se você estiver junto, ótimo, se não, eu dou conta.”
Tornar-se um pai ou uma mãe desnecessária não é tão ruim assim. Parei pra pensar que se meu filho “dá conta” é porque eu fiz bem o meu papel de mãe e educadora. Tornar-se uma mãe desnecessária traz uma sensação de dever cumprido, de realização. Tornar-se uma mãe desnecessária é como receber um atestado de competência, um certificado ISSO qualquer coisa. 
Comparo nosso papel ao das rodinhas da bicicleta, que servem para ensinar e gerar autoconfiança. Ao aprendermos a andar de bicicleta as rodinhas se tornam desnecessárias. Um jovem de 20 anos que necessite de rodinhas na bicicleta deve ter algum problema de equilíbrio ou de aprendizagem. Assim são os pais, se educam e transmitem autoconfiança, tornam-se desnecessários. Pais de filhos pequenos, gastem muito tempo com seus filhos hoje, dediquem-se a eles, para que no futuro vocês possam viver suas vidas sem culpa e com filhos independentes.
Eu sai no meio da madrugada, às seis da manhã não lembrei de ligar para acordá-los, saber se tomaram café ou se escovaram os dentes. Bem, eles não tomaram café e não escovaram os dentes...mas chegaram na escola na hora certa. Foi uma oportunidade para eles aprenderem a fazer do jeito deles e para mim, o início de me tornar livre de responsabilidades rotineiras, porque quem é mãe nunca se sentirá totalmente desnecessária. A qualquer tempo, enquanto viver, eu estarei disponível para as questões em que a minha presença for essencial.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?

"Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:
- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
- Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles.
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? - Questionou novamente o pensador.
- Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça, retrucou outro discípulo.
E o mestre volta a perguntar:
- Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador. Então ele esclareceu:
- Vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito.
Para cobrir esta distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente.
Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro, através da grande distância.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas?
Elas não gritam. Falam suavemente.
E por quê?
Porque seus corações estão muito perto.
A distância entre elas é pequena.
Às vezes estão tão próximos seus corações que nem falam, somente sussurram.
E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta.
Seus corações se entendem.
É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Por fim, o pensador conclui, dizendo:
Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta".
Mahatma Gandhi

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O outro só faz comigo o que eu permito


Nos últimos meses muitos temas vieram à baila na nossa roda de terapia. Hoje  compartilho a história de uma mulher que apresentou o seguinte tema: “Eu não tenho tempo pra fazer nada pra mim ou por mim”. Além de trabalhar 8 horas por dia, ficando até 14 horas fora de casa, ela é filha única e cuida da mãe idosa, do marido doente e dois filhos jovens.
Após ela dividir sua história, algumas pessoas falaram como vivenciaram e superaram problema semelhante. Uma das participantes disse que sempre estava em último lugar “porque eu não me amava em primeiro lugar”. De acordo com esta senhora foi apenas quando ela aprendeu a se colocar em primeiro lugar, a se amar, que pode criar tempo para cuidar de si. Outra disse que foi preciso adoecer de stress para conseguir parar, e descobrir que precisava cuidar de si: “após o stress e a depressão eu tive que olhar para mim”.
Uma frase imperou na roda: “O outro só faz comigo o que eu permito”. Ora, se me submeto às vontades e às determinações alheias é porque eu estou permitindo que isso aconteça. De quem é a culpa se me submeto ao outro? Do outro? Não. A responsabilidade por minha vida é minha. É claro que não podemos generalizar. Há pessoas presas a circunstâncias (doença, família, condição social, econômica etc.) que as engessam. Nem sempre vale esta máxima de que eu não vou permitir que você me trate assim. 
Mas sempre podemos tentar fazer algo por nós mesmos. Se você se prioriza e se ama não vai permitir que o namorado a use, não vai permitir viver em função da filha, não vai permitir que o chefe a assedie infinitamente. Às vezes é preciso parar e avaliar a nossa vida. Sem falar naquelas pessoas que só se queixam: “meu dinheiro só dá pra pagar as minhas dívidas”. Quem mandou se endividar? Organize-se, abra mão de algumas coisas para conquistar outras.É difícil mudar de uma vez? Eu sei. Então, planeje-se. Como você quer estar daqui um ano? Na mesma vida? Problema seu. Mas se quer mudar de vida, estabeleça metas, prazos, corra atrás. Tire um tempo pra você. A pessoa que trouxe o tema e chorava não conseguia visualizar nenhuma possibilidade de ter tempo para si. A tarefa dela foi fazer algo por ela durante a semana. Quando nos encontramos na semana seguinte ela disse, com um grande sorriso: “eu tirei um tempo pra mim e fiz as minhas unhas”.

terça-feira, 19 de março de 2013

Mulher, mulher...sou forte, mas não chego aos seus pés!


Nossa roda estava tímida, poucas pessoas e nenhum tema surgia. Como uma das participantes havia dito que estava sobrecarregada eu propus discutirmos esta questão. A primeira pessoa a falar foi a Karla (nome fictício). Ela disse que é muito difícil pra ela morar na casa da mãe com duas filhas adolescentes, o filho mais velho mora com o pai (primeiro marido). Em suas palavras: “Eu estou sempre sorrindo, mas ninguém sabe o que eu vivo. Algumas noites eu fico acordada olhando minhas filhas dormirem e penso: Meu Deus, como vou fazer amanhã pra elas comerem?...Estar só é muito difícil...eu só posso contar comigo e com este salário aqui do trabalho” (salário mínimo). Esta jovem mãe é viúva do segundo marido, o pai das filhas, que não deixou pensão.
Após ouvirmos com muita atenção as dificuldades de Karla (especialmente o fato de que ela sofre muito quando acaba um relacionamento amoroso) perguntei ao grupo: quem já se sentiu só, desamparada e como superou? Umas três mulheres disseram já ter vivido algo semelhante e que hoje elas são as rainhas de seus lares: “Eu já passei maus pedaços com meus filhos...hoje eles estão grandes e me tratam como rainha”. Todas afirmaram que venceram sem muito apoio masculino: “O homem não dá conta de metade do que nós fazemos por um filho”.
No Brasil parte significativa dos lares tem a composição semelhante ao de Karla, a mãe é a chefe da família e a figura masculina inexiste. Mas fica o mito de que não daremos conta, de que não será possível educá-los, alimentá-los, corrigi-los, amá-los etc. Claro que o ideal seria os dois pais juntos neste processo de criação dos filhos. Todavia, a mulher pode educar seus filhos, mesmo estando sozinha. Outra participante ressaltou que não precisa ter um “traste de homem” só pra dizer que não está sozinha: “quero alguém pra me apoiar, não pra me dar mais trabalho”.
Ao final eu ressaltei que não adianta apenas ter esperança de que tudo vai passar, de que um dia o sofrimento será passado. É preciso agir, trabalhar, estudar, tentar outras possibilidades...é preciso fazer o futuro acontecer. No que diz respeito à falta de um companheiro...é preciso não se iludir. Como eu já escrevi em outro post: se estivermos pela metade nunca vamos encontrar a metade que nos falta. É preciso estar inteira para encontrar alguém inteiro.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Histórias de amores


Nem sempre nossas rodas de terapia comunitária trazem temas tristes e trágicos. A vida pode ser bela, mesmo com adversidades. Então, nosso tema foi amores. Freud afirma que toda mulher quer ser amada. Uma verdade parcial, pois todo ser humano quer ser amado. Amar faz bem à alma (psique) e ao corpo. Como lemos em Provérbios 15:13: O coração alegre embeleza o rosto, o coração triste deprime o espírito. É o amor quem alegra o coração.
Mas não existe um só tipo de amor, existem amores, e qualquer um deles é capaz de nos alegrar. O grego é mais rico em palavras pra expressar os amores. Há Eros, Ágape e Filos. Eros é o amor romântico, mas não necessariamente sexual. Filos é o amor entre amigos, irmãos, família. Ágape seria o amor maior, que transcende a matéria e as relações sociais. Um amor “sem” interesse, superior; amor ao próximo e a si mesmo. Penso que as possibilidades de amor são tantas que nenhuma língua seria capaz de comportá-las.
Nosso grupo de terapia é formado por pessoas que, de modo geral, têm uma vida bem difícil. Mas enquanto falávamos sobre amor os rostos castigados pelo sol pareciam iluminados. Um rapaz contou que está casado a treze anos com a mulher da sua vida. Emocionou-se ao contar que por ela deixou as drogas, que ela o tornou homem e pai. “Eu acho que nós vamos ficar velhinhos e juntos”. Achei tão corajoso de sua parte se expor desta forma.
Uma senhora contou que faz mais de uma década que não tem um companheiro. E completou: “as pessoas pensam que não tenho amor na minha vida, mas não é verdade, tenho minhas filhas”. Outra pegou o gancho e disse que está só, mas por pouco tempo: “gosto de amar, sentir um frio na barriga quando vejo o cara...é bom demais!”
Parece que amores não podem faltar em nossas vidas quer por uma pessoa, quer por várias, quer por um projeto, quer por um ideal. Amplie seus horizontes e acolha, com amor, algo ou alguém. Certamente seu rosto se iluminará.

domingo, 27 de janeiro de 2013

A casa não tinha teto, não tinha nada... sem chão e sem pinico...puro desamparo!

Estamos de volta com nossas rodas de TC, em 2013. Todo ano, ao retomarmos falamos sobre nossas metas para o ano e ajudo o grupo a criar estratégias para alcançar seus objetivos. Desta vez foi diferente...
Soraya (nome fictício) participou pela primeira vez de uma roda de TC, está recém chegada na empresa em que trabalho. Logo que chegou estava sorridente e falante, porém, quando abrimos para a apresentação do tema ela desabou. Soraya morava com a filha mais velha, casada, e outra mais nova, deficiente (com sérias limitações físicas e cognitivas). A filha mais velha a expulsou de casa, chegando a agredi-la fisicamente; o ex-marido pediu a guarda da mais nova e sua mãe faleceu recentemente. Soraya...ficou na rua, sem lenço e sem documento.
A novata chorou muito ao contar sua história recente e disse sentir-se só e frágil. Nós a ouvimos por um longo tempo. Saber ouvir é uma habilidade que o terapeuta comunitário precisa desenvolver. Muitas vezes deixar a pessoa falar é mais importante que fazer perguntas.
Após ela desabafar, lançamos o seguinte mote: “Quem já se sentiu frágil? E o que fez para superar?” Várias pessoas expuseram suas fragilidades e falaram como venceram a seus momentos de fraqueza. Penso que ao sinalizarem, para o grupo, que é possível tornar-se forte após sentir-se quebrado, as pessoas que compartilharam duas dores deram à Soraya a oportunidade de acreditar que tudo passa, até o sofrimento. Ela pode ter se enchido de esperanças. Se as outras superaram...talvez eu também supere?!
Soraya está vivendo um momento de luto. Perdeu a filha mais velha, que preferiu ficar a sós com o marido e excluir a mãe de sua vida; perdeu a mais nova que mora com o pai e raramente pode vê-la: “não sei se estão cuidando dela direito”; perdeu a mãe; perdeu a casa em que vivia (está morando de favor com um parente: “não posso nem dormir na hora que eu quero”). Sem teto, sem parede, sem chão e sem pinico...puro desamparo!
Não sei se, efetivamente, a roda foi frutífera para esta mãe. É claro que nós a acolhemos e mostramos que ela não está só, nós a apoiamos. Mas de uma coisa eu sei, esta história foi útil para mim. Depois desta roda valorizo mais cada detalhe do que possuo.