domingo, 27 de março de 2011

Uma dinâmica pra relaxar

Iniciamos nossa roda massageando nossas mãos. Você pode fazer os movimentos semelhantes aos da reflexologia, e todos repetem. Em seguida pedi que todos fechassem os olhos e espontaneamente continuassem massageando suas mãos. Enquanto isso, refletimos sobre o que fazemos ou poderíamos fazer com as mãos. Cada um foi falando o que veio a mente: "faço carinho em minha filha", "uma comida gostosa". Falamos sobre a capacidade que temos de abençoar ou não com nossas mãos.
Ainda com os olhos fechados, sentados e com os pés em contato com o chão convidei o grupo a massagear, simbolicamente, o coração. Nesse momento, em silêncio, cada um ficou conversando com o seu coração: como ele está se sentindo? Triste? Esperançoso? Angustiado? Com saudades? Do que o meu coração tá precisando? De amor? Conforto? Esperança? Alegria?
Poderíamos ainda refletir sobre a relação que existe entre o que eu faço (mãos) e o que eu recebo (coração). Ao final perguntei: O que seu coração te contou? Esta é a hora de você compartilhar com o grupo o que aperta o seu coração. Na Terapia Comunitária acreditamos que quando falamos sobre nossas angústias o coração fica menos apertado. O resultado foi a postagem anterior, sobre alcoolismo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Histórias que se repetem...ou não!

O tema escolhido foi o de Ana: seu irmão está em crise de abstinência do álcool e tem apresentado alucinações persecutórias, o que desestabiliza e apavora toda a família. No momento da partilha um participante compartilhou sua história: meu pai bebeu a vida toda, hoje meu irmão também é alcoolatra e dá muito trabalho para toda a família. Outra participante contou que seu sogro bebeu por mais de 30 anos, como seu esposo, no período de abstinência ele teve muitas alucinações, mas que a família o apoiou e ele superou o vício por muitos anos. Uma terceira pessoa também tem um pai alcólatra, mas que ela quis construir uma família sem vícios, na casa dela não entra bebidas.
Percebeu-se que as histórias familiares se repetem: Pais com vícios observam que seus filhos desenvolvem vícios. Mas uma das participantes fez diferente na sua idade adulta. Falamos mais uma vez de resiliência. Quando somos feridos, magoados ou vemos nossos pais se destruindo, podemos crescer e fazer as mesmas coisas com os nossos filhos. Mas também podemos fazer diferente, podemos transformar nossas dores em alegrias. Quem nunca recebeu amor pode ser profundamente amoroso com os filhos.
Na terapia comunitária percebemos que temos a nossa frente um quadro em branco e que não precisamos copiar o que nos foi ditado. Podemos, com muito esforço, escrever algo novo. Ao fecharmos a roda convidei cada um a pensar na sua família e quais comportamentos se repetem. Depois refletimos sobre o que cada um tem feito inconscientemente que é idêntico aos comportamentos que antes eram criticados. Por fim pedi que todos ficassem atentos aos seus sentimentos e ações no decorrer da próxima semana.

terça-feira, 22 de março de 2011

Páscoa: o sol vai nascer outra vez!

O Cristo se fez carne e habitou entre nós, morreu e ressuscitou. A ressurreição é uma das metáforas mais belas e que me enche de esperança. A mitologia e a literatura estão repletas desta simbologia. Até a natureza nos fala da metamorfose: a lagarta se transforma em borboleta. Outra metáfora da ressurreição.
Gosto de uma frase: "O destino da lagarta é ser borboleta". E o destino (se é que estamos predestinados) do ser humano é transformar-se em algo melhor. Cada dia que o sol nasce Deus nos dá uma nova oportunidade de fazer um dia diferente do de ontem. Pra onde quer que eu olhe vejo mutação, a transformação, a possibilidade. Todo dia é uma oportunidade para nos transformarmos.
Que nesta Páscoa, você aproveite para fazer como Jesus, que renasça em você uma nova forma de viver, deixando para trás as coisas que não fazem bem a você e aos outros. É preciso ficar atento, como na foto, o homem está em pé olhando o nascer do sol. É preciso que você enxergue a oportunidade para a transformação. Se você não conseguir hoje, não se preocupe porque ... "é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei!"

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Só reconheço no outro o que conheço em mim"

A história do Raimundo se confunde com a de muitos Raimundos. Mas a história dele é ímpar, porque só ele a conhece do seu ponto de vista. O participante desta semana veio do Maranhão, sua mãe faleceu no parto de seus irmãos gêmeos, deixando cinco filhos. Um ano depois, o pai ganhou o mundo e nunca mais voltou. As crianças foram criadas pela avó e ele se sentiu desamparado. A questão que ele trouxe para a roda foi: "todo lugar que vou ou trabalho fico incomodado quando vejo pessoas sendo injustiçadas...eu sempre quero proteger as pessoas...um dia eu me joguei na porta do ônibus, para que ela não se fechasse numa criança, fiquei todo machucado". Para transmitir o que eu sentia enquanto ele nos contava, usei como recurso recontar a sua história na primeira pessoa, com algumas interpretações. Por exemplo: "eu me joguei na porta do ônibus, porque não tem problema eu me machucar, afinal a vida já me machucou tanto! ... eu queria proteger aquele garoto, porque quando eu precisei de proteção, ninguém me protegeu!" Em seguida perguntei: você sente que é a mesma história? Ele disse que sim. Então trabalhamos a projeção que ele faz quando se incomoda tanto com as injustiças que identifica. Parece que o Raimundo sofre com as muitas injustiças que presencia porque ele se sente injustiçado pela vida. Algumas vezes eu não percebo que quando defendo uma causa é porque ela é, antes de qualquer coisa, a minha causa. Um dos princípios da TCI é que eu só reconheço no outro o que eu conheço em mim. Se isso é verdade, de alguma forma, o outro é meu espelho. Então, é na relação com o outro que eu me reconheço. A TCI permite que cada participante, inclusive o terapeuta, se compreenda melhor.

sábado, 12 de março de 2011

Resiliência: Rejeição e amor próprio

Iniciamos a roda com uma dinâmica muito especial, conduzida por um colega, terapeuta corporal. Ele apresentou a atividade como uma vivência de aceitação e conduziu o grupo a aceitar a sua realidade (família, amigos, trabalho, colegas, salário, adversidades etc...). Após este momento fizemos uma avaliação e tiveram a oportunidade de falar como se sentiu na vivência. Então abrimos para a contextualização. Aproveitei o gancho sobre a aceitação da vida como ela é e perguntei: Qual a sua maior dificuldade de aceitação? Dentre as dificuldades apresentadas o grupo escolheu trabalhar a questão de Paula (nome fictício), que não aceita a forma como a mãe a trata: com menosprezo. Paula conta que desde criança se sentia rejeitada por sua mãe, hoje, já adulta a rejeição é ainda maior, sua mãe desconsidera até as netas. Percebi que o tema havia mudado: de aceitar a mãe para ser rejeitada por esta. Então perguntei ao grupo: Quem já se sentiu rejeitado (a) e como fez para superar? Todos começaram a pipocar, a se identificar com o tema, houve vários depoimentos, mas uma história me chamou atenção: Um rapaz contou que sua mãe o deixara em Minas, com a tia, quando ele tinha um ano e treze dias. Aos 13 anos ele veio morar com os pais, uma família estranha. Ele não conhecia os pais. Nunca mais voltou pra sua terra e hoje ele disse que aprendeu que deveria se amar. "Vi que ninguém me amava, então resolvi gostar e cuidar de mim". Jesus nos ensina que devemos amar o nosso próximo como a nós mesmo. Isto quer dizer que só podemos amar o outro se nos amarmos primeiro. Amando a si ele poderá amar os outros e quando tiver seus filhos poderá amá-los. Parece que este participante está no caminho certo, rompendo o ciclo vicioso da falta de amor. Percebi neste jovem um exemplo de resiliência, ele foi capaz de transformar a falta de amor, em amor por si e pelos outros.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quando o medo de sofrer paralisa

Algumas vezes o medo de vivenciar tudo que já nos fez sofrer nos paralisa, mesmo quando não temos consciência disso. Nesta semana uma participante muito querida, que está no grupo desde 2008 nos conta que está muito angustiada com a possibilidade de reaproximação com o ex marido. A separação fora muito dolorosa, por traição, agora ele almoça lá todos os dias e pediu a chave da casa. Ela tem dificuldades de dizer não e quando o faz se sente culpada. Assim, ele foi chegando e ela paralisando. Por medo de uma nova rejeição ela não consegue agir/reagir. Forma-se um círculo vicioso, quando as sensações provocam mais medo e o medo provoca mais sensações, que provocam... por defesa ficamos como uma estátua, imóvel. Quando paralisamos, ficamos vulneráveis, permitimos que o outro se aproxime e controle a situação. É preciso, de alguma forma, sair da zona de “conforto”. Tirar as amarras e caminhar livremente. Acredito que medo pode ser desejo. Medo de reatar seria desejo de reatar. Medo de sofrer seria desejo de sofrer tudo outra vez. Quero deixar claro que estou falando de um nível inconsciente, não é racional. Conscientemente ninguém quer sofrer, se punir, ou achar que merece pagar por algo. Quanto a nossa amiga, eu penso que a pergunta não deve ser: eu devo reatar com ele? Penso que a pergunta deveria ser: eu quero reatar? E agir, caminhar, em função da resposta. Se eu quero reatar eu posso arriscar. A beleza da vida está em arriscar-se, lançar-se para experimentar o novo, ou dar uma nova chance ao velho. Imobilizado (a) pelo medo você não pode viver livremente. Ao final da nossa roda eu disse à participante: seja qual for a sua escolha a faça com dignidade e respeito por si. Seja qual for a sua escolha a faça por você e por mais ninguém!

Formação em Terapia Comunitária pela Prefeitura de Guaxupé

Há quase um ano a Prefeitura de Guaxupé trouxe para a cidade o curso de Terapia Comunitária. Uma aposta da atual administração com um objetivo muito simples e ao mesmo tempo muito ousado: capacitar gente para ouvir gente. É claro que isso é uma definição muito simplificada e até pequena diante da grandiosidade do projeto. A definição de Terapia Comunitária é bem mais complexa do que isso: “é uma abordagem terapêutica em grupo com a finalidade de promover a atenção primária em saúde mental. É um espaço de partilha de sofrimentos e descobertas, privilegiando o saber e a competência, construídos pelas experiências de vida do indivíduo, da família e da comunidade. Estimula o grupo a consolidar vínculos e “empoderar-se”.

De forma prática, a Terapia Comunitária é um instrumento de transformação de vidas, especialmente de vidas em estado de vulnerabilidade, seja social ou emocional e não necessita da intermediação de um psicólogo. O curso foi composto por 4 módulos, com uma carga horária de 160 horas de teoria e vivências, 120 horas de práticas em Terapia Comunitária e 80 horas de Intervisão. Na noite da sexta-feira, 26 novos terapeutas comunitários se formaram. A cerimônia aconteceu no Teatro Municipal e foi marcada por depoimentos emocionantes e pela empolgação de todos ao apresentar resultados impressionantes como a diminuição e até a interrupção do uso de medicamentos de pessoas que participam de algum dos 8 grupos que a cidade já conseguiu formar. Todos os alunos, hoje terapeutas, são unanimes em destacar a mudança que a participação no curso promoveu em suas vidas e que todos têm um novo olhar sobre o valor da conversa, sobre o valor de se compartilhar a vida com outras pessoas e especialmente do valor de se implantar vários núcleos de terapia comunitária em toda a cidade. A Terapia Comunitária teve sua efetividade comprovada pelo SUS e será adotada nas Unidades Básicas de Saúde. Nesse sentido Guaxupé está um passo à frente da maioria dos municípios brasileiros e a previsão é que em breve, uma nova turma para o curso será aberta e com mais profissionais capacitados, mais comunidades serão beneficiadas. Fonte: Prefeitura de Guaxupé