domingo, 25 de setembro de 2011

O que a boca cala o CORAÇÃO sofre

Algumas vezes uma roda de TC nos surpreende com o silêncio ou com um tema aparentemente banal. Lembro-me do dia em que o tema escolhido, na roda, foi a dificuldade em matar as baratinhas da casa da pessoa. Esta roda, foi na minha opinião uma das mais ricas. Se você quiser ver como esta roda se desenvolveu click aqui.
Hoje a mesma participante trouxe outra preocupação: “PRÉ-OCUPADA” com a possibilidade de ser hipertensa. Lancei a seguinte pergunta ao grupo: Quem já sofreu por antecipação? Não houve nenhuma identificação com esta pergunta. Então eu elaborei outro mote, sabendo que no grupo havia uns 6 hipertensos: Como foi saber que você era hipertenso e como você lida com isso?

Várias pessoas responderam. Uma disse que soube que estava hipertensa quando grávida, narrou a tristeza que sentiu ao saber que seu filho morrera em seu ventre, aos cinco meses de gestação. Contou ainda que as próximas gestações apresentaram a mesma complicação, mas que as filhas sobreviveram. Outra participante lembrou que quando grávida passou pela mesma situação 3 vezes, tendo que fazer, contra sua vontade, três cesarianas. Outra contou que por não saber que era hipertensa quase morreu. Uma jovem compartilhou sua preocupação com o fato de estar com várias taxas alteradas e por ter perdido muito peso em poucos meses.
Ao final da roda uma participante disse que cuidar da saúde é algo muito importante e que ela está com diabetes, hipertensão e bem acima do peso. O problema é que ela não está tomando nenhum medicamento, não faz acompanhamento médico, é sedentária e continua engordando. Ela reconheceu a necessidade de cuidar de sua saúde e comprometeu-se a cuidar de si.
Acredito que esta roda foi um alerta para que todos nós possamos nos lembrar da importância do cuidado com a saúde. Ao final da roda lembrei a todos que o que a boca cala o corpo fala. Acredito com todas as minhas forças que se não verbalizarmos nossas angústias, sofrimentos adoecemos. É claro que há uma tendência a hipertensão com o passar dos anos, sei que envelhecemos e às vezes adoecemos porque a máquina fica gasta.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Era uma casa ... ninguém podia entrar nela não...porque na casa não tinha chão...


Quando alguém começa a abrir o seu coração dizendo que se sente sem rumo e sem chão é porque a pessoa de fato está perdida e sem estrutura. Nádia (nome fictício) contou que o ex-marido esteve em sua casa e agiu de forma violenta: “ele quebrou tudo!”  Ela disse ter sentido vontade de morrer: “eu não queria mais viver, pensei em me jogar do viaduto”. Ela não o denunciou, mas está procurando outro lugar para morar, longe dele. Somando-se a este conflito a sua mãe está na UTI desde o mês passado: “me apavora pensar em ficar sem minha mãe, ela é tudo pra mim”, nos conta Nádia.
Ficar sem casa e sem mãe...não é fácil! É estar sem um lugar para chamar de seu e sem o colo materno para confortar. Realmente falta o chão. Todos nós passamos por momentos na vida em que nos sentimos desamparados, fragilizados, em perigo. Ter um espaço para falar deste desamparo, desta angústia é essencial para a superação. Na roda de TC esta jovem pode compartilhar seu desamparo e sentir-se amparada.
Quando ela terminou de falar ela deu um suspiro de alívio e todos do grupo reproduzimos o mesmo som. Então eu perguntei para o grupo: Quem aqui já se sentiu sem chão? Um participante disse ter se sentido assim quando foi traído pela namorada, outra quando o marido morreu e ela ficou sem a casa. A primeira encontrou amparo nas conversas com os amigos, a outra correu atrás de solucionar sua vida e de seus filhos, esta senhora disse: “o único conforto é saber que esta dor passa!”.

domingo, 4 de setembro de 2011

Crack tire essa pedra do caminho (link para CUFA)

Ontem, no Congresso Nacional de Terapia Comunitária, tive a alegria e a tristeza de assistir um parte da palestra do Preto Zezé, presidente nacional da CUFA, Central Única das Favelas. A CUFA trabalha em várias frentes nas favelas do Brasil, mas o que me sensibilizou foi o tema apresentado, o crack. A ONG está lançando um documentário sobre a forma como o crack tem desagregado as famílias e a sociedade brasileira.
Chamou-me a atenção a constatação do Preto Zezé sobre a diferença entre o crack e outras dogras. Segundo ele, as drogas anteriores permitiam que o viciado convivesse em família e sociedade, "o sinônimo de crack é desagregação" disse o palestrante. Com o crack o usuário deixa de conviver com a família, ele vende tudo o que tem. "Vi gente que vendeu até as portas da casa pra se drogar" disse um usuário no documentário.
As consequencias sociais desta droga são devastadoras, elas alcançam todos nós, inclusive eu e você. O índice de abandono de menores subiu assustadoramente. Muitos meninos que estão nas ruas perderam seus pais para o crack, alguns ainda vivos, presos (no presídio ou na droga), outros mortos. O crescimento dos roubos, da prostituição infantil, de abortos espontâneos, doenças como a pneumonia e sequestros também estão relacionados ao uso do crack. Você sabia que o uso do crack é a terceira maior causa de morte no Brasil? Isso é uma epidemia!
O crack é uma droga relativamente barata e ao experimentar pela terceira vez a pessoa já está viciada, num caminho sem volta. O que leva estes jovens e adultos a usarem o crack? O que as famílias podem fazer para minimizar esta tragédia? O que a Terapia Comunitária pode fazer? O que você, profissional da saúde, pode fazer por isso? E você cidadão? O que o terapeuta comunitário pode fazer contra o crescimento do crack? Eu decidi falar, escrever, de alguma forma chutar esta pedra do caminho do meu irmão. Na proxima postagem falaremos a respeito da prevenção.