terça-feira, 28 de junho de 2011

Uma dinâmica que favorece a expressão, a fala, no grupo

Após conhecermos os participantes de primeira vez, apresentarmos o que é a TCI e as regras, passamos pra uma dinâmica de apresentação e expressão de sentimentos. A ideia principal é que todos falem o porque de estar ali, como estão se sentindo naquele dia, o que esperam encontrar naquele grupo etc... O segundo objetivo é favorecer o acolhimento, fazer com que a pessoa se sinta apoiada, ouvida. Com todos em pé e de mãos dadas, na roda, um participante inicia a dinâmica colocando o pé direito à frente: Eu me chamo Fulana, hoje estou triste e peço o apoio do grupo! Todos colocam o pé direito à frente, dentro da roda, e dizem: Nós te apoiamos! Ao retornar ao lugar damos, todos juntos um passo para a direita, fazendo com que a roda gire, se movimente. O próximo, a direita de quem falou, coloca o pé à frente e diz: Eu sou Beltrano, vim aqui porque disseram que é muito bom e eu estou com alguns problemas lá em casa e peço o apoio do grupo. Todos, com a perna direita à frente, respondem: Nós te apoiamos! Após todos falarem nos sentamos e o terapeuta pergunta como foi falar e receber o apoio do grupo. Neste ponto já podemos partir para a escolha do tema, se três ou 4 pessoas desenvolvem o que foi dito na apresentação o terapeuta pode dizer: Podemos escolher um desses temas que vocês trouxeram para o grupo escolher um deles e discutirmos hoje? Eu nunca vi ninguém dizer que não quer ser ouvido um pouco mais sobre o seu problema. Eu gosto muito desta dinâmica. Porque de forma espontânea todos falam, até os que nunca falam em público começam a desenvolver esta habilidade. Em segundo lugar todos se sentem acolhidos, com seus problemas. A fala de um encoraja o outro a falar, da primeira à última pessoa percebe-se uma evolução nas falas, que vão ficando mais sinceras e profundas. Nesta semana a pessoa que trouxe o tema participava pela primeira vez de uma roda de Terapia Comunitária. Acredito que esta dinâmica favoreceu a sua expressão no grupo. Na próxima postagem vou contar sobre a angústia desta mãe e sua relação com sua família.

domingo, 5 de junho de 2011

Espaço para escuta, do luto por óbito fetal, em hospitais

Esta semana falamos sobre gravidez. Uma participante do grupo está grávida e compartilhou um pouco sobre suas expectativas em relação à maternidade. Então vou aproveitar pra postar o resumo de um trabalho que apresentei no CONPSI/2011, em Salvador.

Uma grávida carrega em sua bagagem inconsciente e gestacional todas as suas fantasias de menina segundo o modelo identificatório materno-feminino. Quando uma mulher dá à luz um filho saudável ela vivencia um luto em relação ao bebê imaginário. Porém, o luto materno por perda habitual de feto é ímpar. Óbito fetal é a morte do feto após a 20ª semana, quando a mulher sofre perdas fetais habituais ela é ferida narcisicamente. Para Freud o luto não é uma condição patológica é um sofrimento legítimo por alguma perda. O natimorto não possui certidão de nascimento, nem nome. Nomear o filho facilita o desinvestimento da mãe na gravidez anterior e investimento na atual. A nomeação do filho estrutura a percepção da mãe e organiza suas sensações. Esta apresentação tem como objetivo oferecer reflexões teóricas e práticas acerca da experiência de atendimento em grupo com gestantes que sofreram óbito fetal. Os atendimentos objetivam a prevenção e a promoção da saúde mental entre as gestantes. Os encontros com as gestantes acontecem no ambulatório pré-natal do Hospital Universitário de Brasília e são semanais. Identificou-se falta de reconhecimento social do luto por óbito fetal e de apóio dos profissionais e de iniciativa pública destinada ao enfrentamento dos problemas de saúde da mulher no cuidado com o luto. Os efeitos da negação do luto são nefastos para o psiquismo da mãe, pois obstrui a possibilidade de representação do filho, com prejuízo do teste de realidade. Sugere-se a criação de um espaço de escuta para que a mãe possa ressignificar os sentimentos vivenciados neste contexto, capacitação de profissionais da saúde.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Egoísta, eu?

Na semana passada o tema foi trazido por uma jovem estudante que tem participado do nosso grupo nos últimos dois meses. Segundo ela o seu namorado tem falado que ela é egoísta. Perguntei se ela concordava e ela disse: “Eu acho que sou egoísta mesmo!” Enquanto ela falava fizemos várias perguntas com o objetivo de que ela percebesse quando começou a agir desta forma, o que a levou a ser assim. Ela contou que quando era pequena passou um período muito doente, ficava internada por meses. Nesta época sua mãe ficava por conta dela, cuidando e paparicando. No momento da partilha um participante contou que por ter sofrido muito na vida decidiu ser egoísta e orgulhoso, como uma forma de se proteger. Nos relacionamentos amorosos ele diz não se entregar para não sofrer e que prefere que a parceira sofra. Outra pessoa contou que também se sente egoísta na relação com o marido e que ele reclama de suas atitudes. Parece que só identificamos nosso egoísmo na relação com o outro se estamos sós ou se alguém não nos mostra nossa postura não a percebemos. Por outro lado é complicado afirmar que somos egoístas só pelo olhar do outro. E se o outro for o egoísta da relação e quiser que eu ceda cada vez mais com este argumento? No caso trazido pela jovem ela se reconhece como egoísta e diz querer mudar para se relacionar melhor com o namorado e os amigos. Ela quer ver o lado do outro, o que parece ser muito saudável. Concluímos que quando o assunto é egoísmo devemos buscar o equilíbrio, nem tanto ao céu, nem tanto ao mar! Nem ficar com a coberta toda, nem ficar descoberto!