segunda-feira, 15 de março de 2010

Terapia Comunitária no ambiente de trabalho

Os participantes desta roda de TC que realizo são trabalhadores terceirizados da área de conservação e limpeza, responsáveis pela manutenção da limpeza em dois prédios de 6 andares cada um. Ao todo são 183 terceirizados de manutenção e conservação, com jornada de 44 horas semanais, trabalhando inclusive aos sábados. O grupo de trabalhadores que participa da roda é formado por mulheres (em maior número) e homens que ganham um salário mínimo e moram em cidades satélites e Entorno, região do Goiás próxima ao Distrito Federal. Quanto à carga de trabalho, além das 8 horas, estes trabalhadores moram longe e em função da natureza do trabalho são obrigados a ficar em pé grande parte do tempo, acarretando problemas de saúde como dores nas pernas e problemas de circulação. Alguns pegam peso em demasia, o que leva a problemas ortopédicos, como coluna e outros. Pelo fato de não terem estabilidade no emprego, eles podem ser demitidos ou transferidos a qualquer momento. Em função disso o grupo está sempre com novos participantes, apesar de existir participantes que nunca faltam, muitos saíram e novos estão sempre chegando. Percebemos que o discurso dos novatos, nos primeiros encontros, também é de negação do sofrimento: “só tenho a agradecer, não tenho nenhum problema” ou “fiquei preocupada em vir para este prédio, onde eu não conhecia ninguém, mas tudo que Deus faz é pro meu bem”. Para a Psicodinâmica do Trabalho o trabalhador deve reconhecer o sofrimento, para vivenciá-lo e assim transformá-lo em prazer. A luta contra o sofrimento pode se dá de maneira individual e coletiva. Essa luta caracteriza-se pelo ocultamento ou identificação do sofrimento, sob a forma de patologia, ou enfrentamento efetivo de causas enraizadas na situação de trabalho. (Dejours, 1994). O autor aborda algo que é um dos princípios da TC comunitária: o que não falamos com a boca pode se manifestar através de doenças/patologias. A TC age como prevenção primária (OMS), que compreende todos os atos destinados a diminuir a incidência de uma doença em uma população para reduzir os riscos de aparição de novos casos. A capacidade de transformar o sofrimento em prazer é o que na TC chamamos de resiliência. Na TC nós não buscamos diagnosticar os problemas, queremos sim: Identificar e suscitar as forças e as capacidades dos indivíduos, das famílias e das comunidades para que, através desses recursos, possam encontrar as suas próprias soluções e superar as dificuldades impostas pelo meio e pela sociedade (Barreto, 2008, p. 32) Hoje, muitos sofrimentos são reconhecidos e trazidos para a roda. Uma das questões trazidas pelos participantes é que eles se sentem engessados pelas normas do trabalho, que eles definem como inflexível, com quase nenhuma autonomia. A Psicodinâmica doTrabalho considera que a organização do trabalho é saudável quando oferece oportunidades para negociação, ou seja, quando há uma certa liberdade para o trabalhador ajustar a realidade de trabalho aos seus desejos (Mendes, 2008). Ou seja, um trabalho saudável é aquele que é flexível, que permite ao trabalhador ser criativo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, sugestão ou escreva um texto que eu publicarei ou responderei sua pergunta.