sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dedicação materna na UTI neonatal

Nossa segunda roda de TC com as mães nutrizes na maternidade de um Hospital em Brasília teve como tema principal: sentir-se presa no hospital(as mães com os filhos internados vão raramente, ou nunca, para casa). Antes de falar sobre isso eu gostaria de destacar que temos experimentado algumas dificuldades em relação à metodologia da TC. Por exemplo: não podemos cantar ou fazer uma dinâmica com movimentos intensos, pois sempre há uma ou outra mãe que teve neném naquela semana e estamos em uma maternidade. As dinâmicas limitam-se a respiração e automassagem.
Então, iniciamos nos apresentado e compartilhando as coisas boas da vida. Em seguida, demos a cada uma a oportunidade de compartilhar o que às angustiava naquele dia. Nesta roda, aconteceu algo diferente, o tema foi se desdobrando, um tema puxou outro. Fugimos bastante da metodologia da TC, mas entendo que o importante é que estas mulheres possam desabafar, falar do seu sofrimento.


O primeiro tema foi sentir-se presa no hospital. Uma mãe contou que se sente como se a vida não seguisse seu curso, que não sabe o que se passa fora do hospital. Perguntei se mais alguém se sentia assim e quais as estratégias utilizava para superar este sentimento. Duas mães compartilharam deste sentimento, porém, as demais não se identificavam com este tema. Uma jovem disse que não se sentia presa: “Eu posso ir pra casa quando eu quiser, mas eu não vou sair de perto da minha filha, porque ir pra casa estar com as coisas dela (quarto, roupa) e sem ela em casa ... vai ser pior pra mim”.
Outra mãe disse: “O que me incomoda mesmo é não poder pegar na minha filha a hora que eu quiser. Quando ela chora muito eu fico nervosa e me criticam, dizem que eu não sou capaz de cuidar da neném ... isso me deixa mais nervosa ainda ... algumas vezes eu tenho vontade de sumir daqui com a minha filha ... mas eu sei que ela está bem cuidada”.
Assim, surgiu um novo tema: sentir-se desqualificada como mãe. Ora, eu não pude deixar de me lembrar de Winnicott, segundo este autor a pessoa mais preparada para cuidar do seu filho é a sua própria mãe. No texto Objetos transicionais e fenômenos transicionais, Winnicott (1971/1975) considera que a própria mãe é a pessoa mais habilitada para cuidar do bebê de forma suficientemente boa. Pois, apenas ela pode atingir a preocupação materna primária sem adoecer (Winnicott, 1956/1993). A capacidade que a mãe tem de despojar-se dos interesses pessoais e concentrar-se na gravidez e no bebê é o que a capacita saber exatamente com se sente o filho (Winnicott, 1967).
Com o filho na UTI, pequeno, frágil e com pouco contato com ele a mulher pode ter a capacidade de desenvolver a preocupação materna primária obstruída. Nosso trabalho se deu neste sentido de ajudá-las a perceber que cada uma é capaz de desenvolver uma sintonia, uma identificação com este filho fragilizado. 

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