Então, iniciamos nos apresentado e compartilhando as coisas
boas da vida. Em seguida, demos a cada uma a oportunidade de compartilhar o que
às angustiava naquele dia. Nesta roda, aconteceu algo diferente, o tema foi se
desdobrando, um tema puxou outro. Fugimos bastante da metodologia da TC, mas entendo
que o importante é que estas mulheres possam desabafar, falar do seu sofrimento.
O primeiro tema foi sentir-se presa no hospital. Uma mãe
contou que se sente como se a vida não seguisse seu curso, que não sabe o que
se passa fora do hospital. Perguntei se mais alguém se sentia assim e quais as
estratégias utilizava para superar este sentimento. Duas mães compartilharam
deste sentimento, porém, as demais não se identificavam com este tema. Uma
jovem disse que não se sentia presa: “Eu posso ir pra casa quando eu quiser,
mas eu não vou sair de perto da minha filha, porque ir pra casa estar com as
coisas dela (quarto, roupa) e sem ela em casa ... vai ser pior pra mim”.
Outra mãe disse: “O que me incomoda mesmo é não poder pegar
na minha filha a hora que eu quiser. Quando ela chora muito eu fico nervosa e
me criticam, dizem que eu não sou capaz de cuidar da neném ... isso me deixa
mais nervosa ainda ... algumas vezes eu tenho vontade de sumir daqui com a
minha filha ... mas eu sei que ela está bem cuidada”.
Assim, surgiu um novo tema: sentir-se desqualificada como mãe. Ora, eu não pude deixar de me
lembrar de Winnicott, segundo este autor a pessoa mais preparada para cuidar do
seu filho é a sua própria mãe. No texto Objetos transicionais e fenômenos
transicionais, Winnicott (1971/1975) considera que a própria mãe é a pessoa
mais habilitada para cuidar do bebê de forma suficientemente boa. Pois, apenas ela pode atingir a preocupação
materna primária sem adoecer (Winnicott, 1956/1993). A capacidade que a mãe tem
de despojar-se dos interesses pessoais e concentrar-se na gravidez e no bebê é
o que a capacita saber exatamente com se sente o filho (Winnicott, 1967).
Com o filho na UTI, pequeno, frágil e com pouco contato com
ele a mulher pode ter a capacidade de desenvolver a preocupação materna primária
obstruída. Nosso trabalho se deu neste sentido de ajudá-las a perceber que cada
uma é capaz de desenvolver uma sintonia, uma identificação com este filho
fragilizado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, sugestão ou escreva um texto que eu publicarei ou responderei sua pergunta.