Eu convido você a ver este episódio de um novo ponto
de vista. A gestação, o parto e as horas ou dias que o sucedem são períodos que
podem desencadear fortes transformações e crises na mente/psiquismo de uma mulher:
psicoses gestacionais ou puerperais (no pós-parto). A relação de uma mulher com
a maternidade está diretamente relacionada com a criança que ela foi e com a
mãe que ela teve. A relação da gestante com sua mãe e a forma como esta a
maternou, cuidou dela, exerce forte influencia no modo como a gestante irá se
relacionar com a possibilidade da maternidade. Nós mulheres somos fortemente
influenciadas pela relação que tivemos com nossas mães desde o útero.
Foto: Agência de Notícias de Gana |
Se uma pessoa tem uma parada cardíaca após um período de
luto ou stress intenso ninguém a recriminará. Cada um tem uma estrutura física
e psíquica, assim como história de vida distinta. A doença mental pode
desencadear-se em pessoas em contextos específicos. O que para uma pessoa é
suportável para outra é extremamente sofrido, insuportável. Penso que esta mãe
que deixou o seu filho numa fazenda, no mato, é uma mulher que está sofrendo
profundamente, o sofrimento psíquico é uma doença e como uma doença física não é
possível controlá-la. Esta mãe pode ter
ouvido vozes, tido visões que a assustaram...ou simplesmente não suportou a
presença do bebê que trouxe lembranças de uma infância de rejeições e
abandonos.
Ela não é apenas vítima, deve ser, de alguma forma trazida à
consciência de seus atos. Mas, insisto que não julguemos antes de conhecermos a
história desta mulher. Não vou ser simplória e dizer que poderia ter sido
comigo, ou com você. Não, eu não tenho esta estrutura psíquica, talvez você
também não tenha. Porém, há muitas mulheres que estão sujeitas a esta fragilidade
psíquica na gestação e no parto. Vamos respeitar os que sofrem na alma/psiquê?
Pode não ser nada disso. Quem sabe outra pessoa pegou o bebê da mãe e o abandonou...Cada cabeça um mundo.
Não gostei...
ResponderExcluirEu concordo com o que escreveu, é técnica e está a ver na perspectiva da Mãe. Mas, para além de não invalidar o facto/abandono/crime, é compreensível a revolta que as pessoas sintam mal saibam do caso.
ResponderExcluirA tendência, na generalidade, é sempre filtrar, perceber qual dos intervenientes é o mais indefeso, se haviam outras formas de agir e julgar o responsável máximo pelo acto. Mas, nessa mesma perspectiva (indefeso), também podemos escrever o que escreveu (técnica). Ou seja: algo não deve estar bem com o responsável; a comunidade/família/parceiro/amigo não percebeu que algo estava mal? Não podiam ter alertado "alguém"; não podiam ter chamado à razão? Porque não preveniram?
Claro que não são responsáveis pelo acto (mesmo porque, p.ex., não controlam o parto ou até a forma como poderá agir com a criança, nada é certo), mas podem prevenir: alertar os familiares/amigos/comunidade.... **
Passará sempre pela prevenção: planeamento familiar, educação sexual, educação comunitária, entre outras prevenções possíveis. Mas há também que se verificar em que cultura estamos a tentar intervir. Não é que diminua muito a intervenção, mas a cultura influencia e muito a intervenção. Senão vejamos: num caso onde se pretende, p. ex., diminuir a mutilação genital. Retirar a jovem do seu meio ou "salvá-la" da mutilação não é o suficiente porque, pela cultura onde se insere a jovem, poderá ser banida, excluída e muitas vezes só lhe restará, p. ex. num caso que li, outro comportamento: a prostituição.
Mas então: retirou-se, salvou-se e depois só lhe restou a prostituição?
As intervenções têm sempre que ter em conta a rede de apoio. P.ex. no caso da mutilação, ao intervir, teremos que passar pelo indivíduo, cultura, família, e tudo o que possa influenciar. É muito difícil... mas não impossível! E principalmente, é importante primeiro protegê-la mas saber dar ferramentas para saber agir/defender-se/saber/alternativas, tanto a ela como família, comunidade....
E, como diz, quem sabe se foi a Mãe ou outra pessoa a abandonar a criança???? Só o próprio.... até se descobrir como se deu o caso.
** Se for um jurista a falar até pode dizer que todos poderão ser responsabilizados, certo? :)
Dália Matsinhe