sexta-feira, 8 de junho de 2012

Cão protege bebê abandonado embaixo de uma ponte

Estava pronta pra escrever sobre a nossa roda de Terapia Comunitária de hoje quando, mais uma vez, me deparei com uma notícia sobre outro bebê abandonado. Como não escrever sobre isso se tenho, nos últimos três anos, pensado e estudado sobre a maternidade? Bem, a nova história aconteceu em Gana, o bebê foi encontrado embaixo de uma ponte, aquecido por um cachorro. Estou até vendo os comentários:  “o animal foi mais humano que a mãe”. Certamente críticas como estas surgiram.
Eu convido você a ver este episódio de um novo ponto de vista. A gestação, o parto e as horas ou dias que o sucedem são períodos que podem desencadear fortes transformações e crises na mente/psiquismo de uma mulher: psicoses gestacionais ou puerperais (no pós-parto). A relação de uma mulher com a maternidade está diretamente relacionada com a criança que ela foi e com a mãe que ela teve. A relação da gestante com sua mãe e a forma como esta a maternou, cuidou dela, exerce forte influencia no modo como a gestante irá se relacionar com a possibilidade da maternidade. Nós mulheres somos fortemente influenciadas pela relação que tivemos com nossas mães desde o útero.
Foto: Agência de Notícias de Gana
Se uma pessoa tem uma parada cardíaca após um período de luto ou stress intenso ninguém a recriminará. Cada um tem uma estrutura física e psíquica, assim como história de vida distinta. A doença mental pode desencadear-se em pessoas em contextos específicos. O que para uma pessoa é suportável para outra é extremamente sofrido, insuportável. Penso que esta mãe que deixou o seu filho numa fazenda, no mato, é uma mulher que está sofrendo profundamente, o sofrimento psíquico é uma doença e como uma doença física não é possível  controlá-la. Esta mãe pode ter ouvido vozes, tido visões que a assustaram...ou simplesmente não suportou a presença do bebê que trouxe lembranças de uma infância de rejeições e abandonos.
Ela não é apenas vítima, deve ser, de alguma forma trazida à consciência de seus atos. Mas, insisto que não julguemos antes de conhecermos a história desta mulher. Não vou ser simplória e dizer que poderia ter sido comigo, ou com você. Não, eu não tenho esta estrutura psíquica, talvez você também não tenha. Porém, há muitas mulheres que estão sujeitas a esta fragilidade psíquica na gestação e no parto. Vamos respeitar os que sofrem na alma/psiquê? 
Pode não ser nada disso. Quem sabe outra pessoa pegou o bebê da mãe e o abandonou...Cada cabeça um mundo.

2 comentários:

  1. Não gostei...

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  2. ‎Eu concordo com o que escreveu, é técnica e está a ver na perspectiva da Mãe. Mas, para além de não invalidar o facto/abandono/crime, é compreensível a revolta que as pessoas sintam mal saibam do caso.
    A tendência, na generalidade, é sempre filtrar, perceber qual dos intervenientes é o mais indefeso, se haviam outras formas de agir e julgar o responsável máximo pelo acto. Mas, nessa mesma perspectiva (indefeso), também podemos escrever o que escreveu (técnica). Ou seja: algo não deve estar bem com o responsável; a comunidade/família/parceiro/amigo não percebeu que algo estava mal? Não podiam ter alertado "alguém"; não podiam ter chamado à razão? Porque não preveniram?

    Claro que não são responsáveis pelo acto (mesmo porque, p.ex., não controlam o parto ou até a forma como poderá agir com a criança, nada é certo), mas podem prevenir: alertar os familiares/amigos/comunidade.... **

    Passará sempre pela prevenção: planeamento familiar, educação sexual, educação comunitária, entre outras prevenções possíveis. Mas há também que se verificar em que cultura estamos a tentar intervir. Não é que diminua muito a intervenção, mas a cultura influencia e muito a intervenção. Senão vejamos: num caso onde se pretende, p. ex., diminuir a mutilação genital. Retirar a jovem do seu meio ou "salvá-la" da mutilação não é o suficiente porque, pela cultura onde se insere a jovem, poderá ser banida, excluída e muitas vezes só lhe restará, p. ex. num caso que li, outro comportamento: a prostituição.

    Mas então: retirou-se, salvou-se e depois só lhe restou a prostituição?

    As intervenções têm sempre que ter em conta a rede de apoio. P.ex. no caso da mutilação, ao intervir, teremos que passar pelo indivíduo, cultura, família, e tudo o que possa influenciar. É muito difícil... mas não impossível! E principalmente, é importante primeiro protegê-la mas saber dar ferramentas para saber agir/defender-se/saber/alternativas, tanto a ela como família, comunidade....

    E, como diz, quem sabe se foi a Mãe ou outra pessoa a abandonar a criança???? Só o próprio.... até se descobrir como se deu o caso.

    ** Se for um jurista a falar até pode dizer que todos poderão ser responsabilizados, certo? :)

    Dália Matsinhe

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