quarta-feira, 14 de abril de 2010

A cura de Schopenhauer (final da resenha)

Os seis meses de sessão, antes combinado, parece não ter efeito sobre Philip, que continua aparentemente intocável. Dr. Julius se questiona se de fato quer ajudar o paciente ou quer ver a mudança por vaidade. Mas Philip pede para continuar até à última sessão do grupo e começa a interagir com o grupo: fala, incomoda-se, pensa sobre o que foi trabalhado no grupo durante a semana e começa a se envolver e emocionar-se com as discussões no grupo. Tais comportamentos vão contra a sua filosofia de vida que Philip adota (a de Schopenhauer). Philip percebe que precisa descobrir suas próprias respostas, que a máxima Schopenhaueriana de que “viver é dor e tédio” não vale para todos. O livro chega ao ápice na penúltima sessão este trecho é narrado de uma forma brilhante que emociona o leitor, levando-o a descobrir que muito do que Schopenhauer escreveu é uma verdade universal: “a vida pode ser comparada a um bordado que no começo da vida vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos”. Vários trechos levam o leitor a refletir sobre a questão ética no trabalho de um terapeuta. Seria correto usar a filosofia como recurso para aconselhamento terapêutico? Como as sessões seriam conduzidas? Que técnicas seriam usadas? O terapeuta poderia ser apenas um filósofo como Philip ou deveria conhecer técnicas psicoterápicas? Será que alguém como Philip estaria apto a atender pessoas e a ajudá-las? É muito provável que alguém que optou por não se relacionar com outras pessoas não consiga ajudar um outro em suas dificuldades, visto que a maioria das dificuldades humanas decorre da interação com o outro. Por outro lado possuir habilidade para lidar com o paciente não é suficiente para caracterizar um terapeuta. A motivação para exercer tal profissão é essencial nesta profissão. Além da qualificação e da facilidade em interagir com o paciente o profissional deve querer ajudar. Mesmo que existam outras causas como a vaidade ou orgulho do Dr. Julius não o desqualificam como terapeuta, antes mostra sua humanidade. Nada do que fazemos possui uma única motivação. Sempre há interesses secundários norteando nossas ações. Todo curioso em conhecer a alma humana e fãs das terapias de grupo tem a obrigação de viajar pelas páginas deste livro.

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