domingo, 11 de março de 2012

Crises que preparam a mulher para tornar-se mãe

O atendimento às grávidas no HUB, desta semana, revelou vários aspectos psíquicos característicos da gestação. Dandara (nome fictício), uma jovem de 21 anos, primípara, com encaminhamento psiquiátrico para a clínica psicológica em função de um quadro depressivo gestacional, com choros e acessos de raiva. Ela brigou com o marido e voltou para a casa da mãe, com quem nunca teve um bom relacionamento, exceto agora. No início da gravidez procurou o pai que não via desde que era criança, os dois se reaproximaram. Em meio a tantos problemas ela diz que a gravidez tem sido um momento de muita tranquilidade em sua vida. “a única pessoa que me importa é meu filho...meu relacionamento com ele será bem diferente do de minha mãe comigo”.
Com tantas emoções seria possível que este período seja tão tranquilo? Sim, é possível que os dois afetos coexistam. A ambivalência, presença simultânea de dois sentimentos opostos, é uma característica do período gestacional. Brigava com a mãe, agora conseguem conversar, não falava com o pai, se reaproximaram, por outro lado afasta-se do marido. Neste tempo a mulher está se preparando para ser mãe, como sua mãe.  
Apesar de Dandara dizer que fará tudo diferente percebi que ela terá o filho com a mesma idade que a mãe a teve, separa-se do marido como a mãe o fez, quando ela nasceu, trabalha dez horas por dia e vai continuar trabalhando, como sua mãe que era ausente ela poderá ser. É claro que ela fará diferente de sua mãe, mas fortemente influenciada por esta.
A gestação é também um momento de regressões na vida de uma mulher, de reatar laços com os genitores, como esta moça o faz, reconstrói os laços com os pais. Tudo isso porque nesta época a mulher regride psiquicamente à criança que ela fora, ao bebê que precisou de cuidados. Este período de crise é parte do processo de preparação para tornar-se psiquicamente mãe, lembrar-se do bebê que ela fora e identificar-se com sua mãe a ajudará a entender o seu bebê e adaptar-se às necessidades dele, como diria Winnicott.
Para saber mais: Winnicott (1956). Preocupação materna primária. In Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, p. 399-405.

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