segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Matéria sobre a TC com o grupo de trabalhadores, por Marta Crisóstomo.

Terapia Comunitária no TST fortalece autoestima e reforça cidadania dos terceirizados

Todas as sextas-feiras, há exatamente dois anos, uma roda se forma no térreo do bloco B do TST, embaixo da biblioteca. É lá que, às 14 horas, um grupo se reúne para falar e, principalmente, ouvir uns aos outros. Seus problemas, angústias, experiências, aprendizados, tudo é partilhado. Um fala de cada vez, e sempre na primeira pessoa, conforme as duas regras do programa estabelecidas e prontamente respeitadas. As sessões têm momentos de alegria e tristeza, mas o mais importante foi a criação de laços de confiança mútua entre os integrantes - colaboradores terceirizados da área de conservação e limpeza do Tribunal. Com isso, a roda de Terapia Comunitária, sob a supervisão da psicóloga Teresa Freire, se firmou e tem rendido frutos como ajudar os participantes a se fortalecer para enfrentar o dia a dia, já que lá podem desabafar e discutir problemas sérios, como a morte – às vezes o assassinato - de alguém querido, a prisão de um filho por drogas, a superação de uma crise de depressão, o rompimento indesejado de um romance. Tudo com muito carinho, respeito e solidariedade, adquiridos durante a convivência de na roda. De acordo com Teresa, que também é teóloga e filósofa, em média 25 pessoas, que têm jornada de 44 horas semanais, trabalhando inclusive aos sábados, atendem à terapia regularmente, mas o grupo pode chegar a 40, de acordo com a ocasião. Segundo ela, cerca de 30% estão na terapia comunitária desde o início, mas há muita rotatividade, por causa das demissões e transferências. Há 19 anos no TST e atualmente trabalhando na Biblioteca, a psicóloga explica que o projeto foi regulamentado pelo N.º 525/GDGSET de 16/10/2008, e teve no início a participação de mais duas terapeutas, que não puderam continuar o trabalho. “Tive medo de não conseguir tocar a terapia sozinha, mas felizmente tem dado certo”. Voluntária, seu ganho é o “salário afetivo”, como diz. Teresa coordena ainda um outro grupo de terapia comunitária com crianças do Varjão, e mantém um blog sobre as duas experiências: o http://terapiacomunitariapsicanalise.blogspot.com/.

O principal motor da terapia comunitária, afirma a psicóloga, é o reforço da autoestima que ela traz aos participantes, fruto do autoconhecimento gradualmente adquirido. Como resultado, eles passam a ter consciência de sua própria importância e atentam para sua cidadania, seus direitos e deveres; passam ainda a sonhar, e com isso reconhecer desejos, estabelecer objetivos, metas. A cada início de ano é perguntado aos integrantes qual sua meta para o período, e isso é periodicamente relembrado. No processo, são partilhadas estratégias para a consecução do objetivo. Teresa conta que, no início da terapia, os participantes tinham dificuldades de falar de si, e a discussão ficava muito no coletivo, em questões como problemas no trabalho. “Eles eram tímidos para usufruir de direitos simples, como pegar um atestado de saúde quando necessário”, conta ela. Houve, então, um período para orientação sobre essas questões. Com o passar do tempo e o ganho da confiança mútua, a fala passou a ser sobre o eu de cada um, e os participantes foram conseguindo partir do mundo concreto para o abstrato. Hoje, como disse A., uma integrante há um ano e 10 meses, há muito companheirismo e muita coragem da maioria de falar sobre sua vida. “Um dá força para o outro para se soltar”, afirma. E eles vêm se soltando mesmo. S., por exemplo, afirmou que nunca havia conseguido ler em público na vida, nem manifestar carinho dando abraço num colega. Com a terapia, “isso agora é fácil”, diz ela. Já V., que chegou na roda com depressão há dois anos, conseguiu, com a ajuda da terapia, buscar ajuda e hoje está praticamente livre da doença. De acordo com ela, “aprendi a me abrir na roda, a falar de mim e a escutar o que os outros dizem”, o que ajudou no processo de recuperação da depressão. Já I., que participa “quando pode”, a terapia comunitária trouxe mais calor humano ao Tribunal, e para ele “deveria haver mais rodas no TST e em outros lugares da vida, porque essa troca faz com que a gente passe a falar, ouvir, compartilhar e, especialmente, confiar”. (Marta Crisóstomo)
Texto retirado da intranet, na página do TST, acessado em 20/09/2010.

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