Então, esta semana fui apresentada a um poema de Drummond, O QUE VIVEU MEIA HORA. Escrito em memória de seu primeiro filho que morrera meia hora após nascer, com o cordão enrolado no pescoço. Transcrevo-o:
O QUE VIVEU MEIA HORA
nascer para não viver
só para ocupar
estrito espaço numerado
ao sol-e-chuva
que meticulosamente vai delindo
o número
enquanto o nome vai-se autocorroendo
na terra, nos arquivos,
na mente volúvel ou cansada,
até que um dia,
trilhões de milênios antes do Juízo Final
não reste em qualquer átomo
nada de uma hipótese de existência.
SER
O FILHO que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.
Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apóia em meu ombro
seu ombro nenhum.
Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?
Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste,
contudo chamava-te
como ainda te chamo
(além, além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.
O filho que não fiz
faz-se por si mesmo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, sugestão ou escreva um texto que eu publicarei ou responderei sua pergunta.