Nossa roda estava tímida, poucas pessoas e nenhum tema surgia.
Como uma das participantes havia dito que estava sobrecarregada eu propus discutirmos
esta questão. A primeira pessoa a falar foi a Karla (nome fictício). Ela disse
que é muito difícil pra ela morar na casa da mãe com duas filhas adolescentes,
o filho mais velho mora com o pai (primeiro marido). Em suas palavras: “Eu
estou sempre sorrindo, mas ninguém sabe o que eu vivo. Algumas noites eu fico
acordada olhando minhas filhas dormirem e penso: Meu Deus, como vou fazer
amanhã pra elas comerem?...Estar só é muito difícil...eu só posso contar comigo
e com este salário aqui do trabalho” (salário mínimo). Esta jovem mãe é viúva
do segundo marido, o pai das filhas, que não deixou pensão.
Após ouvirmos com muita atenção as dificuldades de Karla (especialmente
o fato de que ela sofre muito quando acaba um relacionamento amoroso) perguntei
ao grupo: quem já se sentiu só, desamparada e como superou? Umas três mulheres
disseram já ter vivido algo semelhante e que hoje elas são as rainhas de seus
lares: “Eu já passei maus pedaços com meus filhos...hoje eles estão grandes e
me tratam como rainha”. Todas afirmaram que venceram sem muito apoio masculino:
“O homem não dá conta de metade do que nós fazemos por um filho”.
No Brasil parte significativa dos lares tem a composição
semelhante ao de Karla, a mãe é a chefe da família e a figura masculina
inexiste. Mas fica o mito de que não daremos conta, de que não será possível educá-los,
alimentá-los, corrigi-los, amá-los etc. Claro que o ideal seria os dois pais
juntos neste processo de criação dos filhos. Todavia, a mulher pode educar seus
filhos, mesmo estando sozinha. Outra participante ressaltou que não precisa ter
um “traste de homem” só pra dizer que não está sozinha: “quero alguém pra me
apoiar, não pra me dar mais trabalho”.
Ao final eu ressaltei que não adianta apenas ter esperança
de que tudo vai passar, de que um dia o sofrimento será passado. É preciso
agir, trabalhar, estudar, tentar outras possibilidades...é preciso fazer o
futuro acontecer. No que diz respeito à falta de um companheiro...é preciso não
se iludir. Como eu já escrevi em outro post: se estivermos pela metade nunca
vamos encontrar a metade que nos falta. É preciso estar inteira para encontrar
alguém inteiro.