Soraya (nome fictício) participou pela primeira vez de uma
roda de TC, está recém chegada na empresa em que trabalho. Logo que chegou
estava sorridente e falante, porém, quando abrimos para a apresentação do tema
ela desabou. Soraya morava com a filha mais velha, casada, e outra mais nova,
deficiente (com sérias limitações físicas e cognitivas). A filha mais velha a
expulsou de casa, chegando a agredi-la fisicamente; o ex-marido pediu a guarda
da mais nova e sua mãe faleceu recentemente. Soraya...ficou na rua, sem lenço e sem documento.
A novata chorou muito ao contar sua história recente e disse
sentir-se só e frágil. Nós a ouvimos por um longo tempo. Saber ouvir é uma
habilidade que o terapeuta comunitário precisa desenvolver. Muitas vezes deixar
a pessoa falar é mais importante que fazer perguntas.
Após ela desabafar, lançamos o seguinte mote: “Quem já se sentiu frágil? E o que fez para
superar?” Várias pessoas expuseram suas fragilidades e falaram como
venceram a seus momentos de fraqueza. Penso que ao sinalizarem, para o grupo,
que é possível tornar-se forte após sentir-se quebrado, as pessoas que compartilharam duas dores deram à Soraya a
oportunidade de acreditar que tudo passa, até o sofrimento. Ela pode ter se enchido de
esperanças. Se as outras
superaram...talvez eu também supere?!
Soraya está vivendo um momento de luto. Perdeu a filha mais
velha, que preferiu ficar a sós com o marido e excluir a mãe de sua vida;
perdeu a mais nova que mora com o pai e raramente pode vê-la: “não sei se estão
cuidando dela direito”; perdeu a mãe; perdeu a casa em que vivia (está morando
de favor com um parente: “não posso nem dormir na hora que eu quero”). Sem
teto, sem parede, sem chão e sem pinico...puro desamparo!
Não sei se, efetivamente, a roda foi frutífera para esta mãe.
É claro que nós a acolhemos e mostramos que ela não está só, nós a apoiamos.
Mas de uma coisa eu sei, esta história foi útil para mim. Depois desta roda valorizo mais cada detalhe do que
possuo.